sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Violinista

Era bem cedo e no chão as flores roxas meio azuladas já aguardavam as outras roxas lilases que caíam com suavidade apesar do zumbido agressivo da ventania. “Quando a idade vai chegando...” e as duas passavam com filosofismos prematuros. Teriam 35? Não, menos, mas prosseguiam com aqueles ocos da conversinha anciã enquanto a brisa fazia os pés movimentarem-se ritmados. O quê? “Tua conta ficou descoberta ontem!”e as flores miúdas saltavam dos galhos musculosos preenchendo outros abismos fossos crateras e tudo que parecia vulnerável. Ela terá visto? O mundo civilizado invadia espaços daquele roxo singular à altura de nossos deslumbramentos e ela apertava instantes confundindo a direção do vento. Havia tons de lilás e de rosa aqui e ali, mas “Ela gosta muito desse au au”, Como? e os pés de novo assumiam seu caráter peregrino e viajavam pelo olhar da criança naquele carrinho que também pisava o arroxeado do percurso. Foi assim que sem querer todos ali no parque nos tornamos personagens de Chagall: sem gravidade, flutuávamos aliviados do tempo, do progresso e até ouvíamos o sopro da brisa que por alguns momentos emudeceu para dar lugar aos acordes do violinista em verde vestido do roxo da floração.

9 comentários:

  1. Olá Maria Teresa,
    Encantatória a sua pros! Também eu não me importava nada de ser uma das personagens de Chagall, de preferência aquelas, que ele muito pintou de um casal a flutuar de mão dada. Como tenho medo às alturas de mão dada era melhor!...
    Beijinho e bom fim-de-semana,
    Manú

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  2. Muito bom podermos fazer parte desse quadro de Chagal. Afinal somos todos personagens vivos e participantes da natureza. Nós é que não nos damos conta da beleza que representamos. BjRUTH

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  3. Manuela:
    Também adoro aqueles casais de mãos dadas; sou fã deles e, por isso, essas imagens sempre surgem aqui e ali quando surge vontade de voar!
    Beijos


    Ru:
    De fato, normalmente não nos damos conta disso. Daí a importância do artista que observa e que nos insere com sensibilidade.
    Beijos

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  4. Um "quadro" muito bem pintado, Maria Teresa. parabéns!
    Beijinho e bom fim-de-semana

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  5. Caro Quicas:
    Agradeço a moldura com que você gentilmente o complementou.
    Abraços

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  6. Esse texto é um brinde ao domingo! Pelo menos aos domingos deveríamos flutuar..., flutu- A R......, ganhar leveza, perder a densidade em que entramos no cotidiano...
    Muito obrigada, Maria Teresa!

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  7. Nivaldete:
    Que delícia de comentário! Acabei o domingo flutuando.
    Bjo pra você

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  8. Maria Teresa
    Por momentos, flutuei ao ler o seu post. Embora seja uma pessoa bem resolvida em relação à minha idade, senti-me voar para o tempo em que me sentia mais saudável e em que podia fazer tudo aquilo que "me dava na gana".
    Acabou o texto e a nostalgia. Rgressei à realidade com que convivo normalmente e vou continuar a seguir o ciclo normal da vida, talvez apreciando a pintura de Chagall.
    Beijinhos
    Lourdes

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  9. Lourdes:
    Seu comentário foi um complemento terno do que o texto pretendia sugerir. Um complemento sensível, que me deixou, ao final, com aquele sorriso alegre de quem recebeu um rico presente.
    Beijo

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