Vinicius

A poesia foi para ele amante exigente, de quem Vinicius procurou despedir-se por não conseguir vincular-se plenamente, devido a seu compromisso social, devido a seu engajamento. Certa vez, ele escreve pedindo desculpa aos leitores por não atender ao chamado daquela que a quem amou mais do que tudo, mais do que as mulheres, talvez, que sempre inspiraram os seus poemas. Pede desculpas por não atender ao chamado da poesia porque a realidade da vida parece ser uma obrigação mais premente, mais angustiante: “Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro. / Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar / Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo. / [...] Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos / Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.” No entanto, essa despedida nunca ocorreu, pois o poeta sempre submeteu sua temática social ao lirismo que embala e seduz pela emoção e pela coerência. Hoje, 30 anos sem Vinícius, minha homenagem ao poeta cantor da mulher que passa, ao poeta que se pensou desde o dia da criação, ao poeta que construiu um mundo particular de poesia e onde provavelmente esteja vivendo e con-vivendo cheio de alegria, louvando a beleza e louvando o amor, que possui a forma e a magia de todas as mulheres.

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