E aí o menino de 7 anos percebeu que era feito de lata. Percebeu quando tamborilou com o lápis no topo da cabeça, enquanto cantava a cantiga que se acumulava e que falava dos instrumentos musicais da loja do Mestre André. A descoberta fez com que ele morresse de rir e não parasse mais, quase nunca mais. Descobriu e ficou sabendo que ele talvez fosse o primeiro a descobrir, mas logo após as pessoas todas se transformariam em amontoados de placas de um material frio gélido como a neve que fica escorrendo no parabrisa no inverno daqueles lugares onde a neve cai. Curioso ter um coração que poderia amassar, como uma latinha de coca-cola. Um coração que poderia ser jogado na lata de lixo reciclável e que poderia ser vendido por quilo, junto com outros corações também amassados. Então o menino que ria tanto sem parar ficou preocupado, pois até que ser de lata parecia divertido, mas o coraçãozinho longe dele poderia sentir sua falta, mesmo batendo com gosto de ferrugem. E ele que ria sem parar parou de repente de rir e de novo tamborilou com o lápis no topo da cabeça. Não ouviu o tóim tóim tóim do lápis batendo na lata, mas sentiu uma dor fininha, dessas bem doídas que só as pessoas que são gente de verdade sentem e fazem cara triste para espantá-la bem depressa. E aí o menino de 7 anos percebeu que era melhor não ser de lata, mesmo se às vezes tivesse que sentir uma dor fininha fininha.
Oxalá Maria que os corações dos meninos e meninas de 7 anos não endureçam tanto a ponto de não produzir mais eco nenhum quando tocados. Oxalá que os meninos e meninas de 7 anos tenham a mínima proteção diante das demais "gentes latinhas" para não se tornar uma delas, de tanto observá-lhes o exemplo. Concluindo que é a única forma de sobreviver é falando a mesma lingua de ferro, volúvel diante das temperaturas, ocas e surdas. Facilmente recicláveis.
ResponderExcluirBeijos,
Amanda
Um texto grave e leve, M. Teresa. Curto e denso, como sempre você faz. Parabéns!
ResponderExcluirUm abraço.
Que bom poder ser o"menino de lata", além das dores, das tribulações, da insanidade. Alguns instantes com essa experiência não faria mal algum. Muito elucidativo. Parabéns! RUTH
ResponderExcluirAmanda:
ResponderExcluirIsso mesmo; pensei em coisas desse tipo quando as palavras se registraram no papel. Fiquei contente com sua interpretação.
Beijo
Nivaldete:
Como sempre um comentário pra lá de generoso. Generoso e cheio de luz.
Beijo
Ru:
Verdade; morrer de rir parece ser uma boa terapia. Daquelas que enchem a alma de pureza.
Beijos