Não sabia se era melhor chegar com seu jeito explosivo ou com aquele outro ardiloso; estava quase dando meia volta e deixando pra lá como sempre acontecia, como se fosse já um preceito há muito definido. O problema era desvencilhar-se do encantamento provocado por aquela voz vestida de ordenança e adornada de exotismo. Nunca sabia o que tinha que ser feito e seguia obediente apenas seguia, dispensando-se de reflexão ou de bom senso. Sentia cutucar-lhe porém um pensamento intrometediço que lhe tirava o sono e que impedia seu caminhar compreensivo, cheio de tolerância de dignidade evaporada. Então prosseguia naquele rumo árduo de definição não sabida. Prosseguia sem querer saber de vírgulas ou de paradas camufladas que adiariam sua decisão que enfim tomava forma e que espelhava a rigidez de sua fraqueza, afinal era só abrir a porta e colocar ali mesmo na soleira o ponto final com gosto já de estertor e de coisa moribunda. Procurou a chave, encontrou a fechadura e esbarrou nos parênteses: foi assim que correu para a melodia dos sons que acorrentavam sua liberdade sufocada.
Brilhante, a escolha desta banda desenhada (corrosiva, que muito aprecio) e o texto, irónico, talvez, mas suficientemente explícito!
ResponderExcluirAgradeço suas visitas e simpáticos comentários!
Beijinho
Quicas:
ResponderExcluirPara mim, é sempre um prazer encontrá-lo por aqui.
A ironia é, de fato, uma máscara utilíssima para que se abordem os enredos do cotidiano. Como você bem disse, às vezes ela corrói.
Abraços
Oi, Maria Teresa!
ResponderExcluirSua forma de escrever me enche de admiração e de "invejinha boa", hehehe
Gostaria de conseguir colocar "no papel" meus pensamentos assim, de forma tão coerente!
"O problema era desvencilhar-se do encantamento provocado por aquela voz vestida de ordenança e adornada de exotismo..."
Sempre gosto dos seus textos!
beijoca carinhosa,
Neli
Como os quadrinhos espelham bem a situação explorada. Afinal,muitas vezes de coisas não expressas partem sentimentos e emoções. Gostei. BJ RUTH
ResponderExcluirNeli:
ResponderExcluirMuito obrigada por suas palavras tão cheias de ternura. Texto é que nem filho e falar bem do filho ...
Beijos
Ru:
Sempre adorei os quadrinhos pela concisão que eles encerram. E pela profundidade que normalmente favorece a reflexão amadurecida.
Bjos
Amiga Teresa!
ResponderExcluirCanso-me de repetir o que sinto quando a leio, alegria, uma enorme alegria...pela forma linda como escreve e que muito aprecio.
Adorei mais este texto, que tem algo de sarcástico/irónico que gosto muito.
Lembrou-me, se mal comparo Miguel Esteves Cardoso.
Beijinhos
Ná
Na casa do Rau
Cara Fernanda:
ResponderExcluirFico muito feliz de que tenha apreciado o texto, de que tenha sentido essa alegria; coisa boa. Também fico lisongeada com a comparação. Conheço pouco do Miguel Esteves Cardoso, mas o suficiente para saber que ele é um dos grandes autores portugueses da modernidade; que elogio!
Beijo carinhoso
Maria Teresa, sempre poética ao escrever!
ResponderExcluirAdoro sua maneira de brincar com as palavras, vc faz delas o que bem entende...rs
Bjs
Todo um processo subjetivo, forte, condensado no seu texto! Fiquei pensando no som da chave na fechadura... Gosto dessa inquietação que resta...
ResponderExcluirgrande abraço!
Vera:
ResponderExcluirVocê sempre um amor de gentil. Obrigada.
Bjos
Nivaldete:
É curioso. Quando o papel recebe as primeiras palavras, ele assume ares de comando que, às vezes, fazem com que a intenção do texto fique mais intensamente delineada. Foi mais ou menos isso que aconteceu até o momento da chave na fechadura...
Beijo