segunda-feira, 24 de maio de 2010

Avesso

As ruas pareciam em suspenso, afinal, com as palavras todo cuidado é pouco. Elas sabem acarinhar da mesma forma que se transformam em estiletes que pinicam fininho fininho. Não se ouviam mais que olhos pidões e boca cheia de suspiros, mas era tudo fugaz naquele mundo de dúvidas e de sutilezas. Ela caminhava com seu vestido amarelo cheio de largueza, mas ele a enxergava por dentro do algodão de textura macia. Andava ritmada e resoluta. Decidida como quem está numa estrada cheia de curvas e nenhuma placa esclarecedora. No ensolarado do rastro dela, porém, ele despontou da elipse que o escondia e vetou-lhe a passagem com vocábulos cheios de mimos; ela não disse nada e continuou caminhando através das fissuras de coragem que lhe ficavam à frente, desmoronadas. Então, bem lá no fim da rua, como se o acaso estivesse de sobreaviso, voltou-se e sorriu com graça cheia de metáforas. Sorriu e sorriu, saboreando cada palavra que saiu pairando e fazendo-os flutuar, acima das ruas ainda pasmas e inquietas em seu papel de cenário e de esconderijo.

12 comentários:

  1. Entre metáforas e fantasia V vai navegando e levando adiante o gosto pela ficção e pelo romance. Sim, porque no fim do cminho sempre haverá o encontro feliz. BJ RUTH

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  2. E disso tudo resultou um lindo e sonoro texto.
    beijos

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  3. Maria Tereza, um pequeno lindo conto. Valeu!!

    Bj

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  4. Ru:
    Nada como navegar entre metáforas, não é? Elas enriquecem e ajudam nos caminhos da maturidade e do conhecimento.
    Beijos


    Dulce:
    Fico feliz de que você tenha ouvido a melodia das entrelinhas.
    Beijos


    Caro amigo das Notas &amp:Notícias:
    Obrigada pela visita. Apareça sempre!
    Abraços

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  5. Flutuando é mesmo de Chagall, aqueles casais que flutuam acima das cidades...ainda vem que ela sorriu!...Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, não é? rsrsrs
    Ando com uma certa curiosidade, por palavras que foi deixando...Conhece o Porto? Conhece Braga? Já viveu cá? Ei que cusca eu estou a ser!...Se não responder, tudo bem, web-amigas como sempre!
    beijinhos,
    Manú

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  6. Manuela:
    Adoro as pessoas flutuando nas telas de Chagall. Essa coisa de "pairar" e contemplar me atrai muito mesmo...
    Quanto à sua curiosidade, já fui muito a Portugal, mas nunca para morar. Foram várias viagens, em vários momentos da vida, pois adoramos seu país, sua cultura, com destaque para a Literatura. Além disso, minha sogra era de um vilarejo próximo aO Porto, daí termos esquadrinhado toda a região em muitas oportunidades, apesar de não haver mais familiares nossos conhecidos por aí. Como adoramos viajar, Portugal está, então, sempre na mira de nossas pretensões.
    Bjos,

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  7. Maria Teresa,
    Obrigada pela resposta, agora já compreendi! Quem sabe se um dia não vamos tomar um café por cá!...Por cá, porque por aí, não vejo jeito...meu marido nem pode fazer grandes viagens de avião!...Se algo precisar por cá, estou ao seu dispôr.
    Beijinhos,
    Manuela

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  8. Manuela:
    Adoraria esse café! Entretanto, da mesma forma coloco-me ao seu dispor nesta terra verde-amarela.
    Beijos

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  9. Um conto cinêmico... A câmera da palavra deslizando... Ótimo!
    Um abraço.

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  10. Nivaldete:
    Obrigada. Adorei saber dessa característica cinematográfica!
    Bjo

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  11. Li e reli revirando pelo Avesso e cada vez mais gosto de tão poético que é. A frase "...voltou-se e sorriu com graça cheia de metáforas", então... Belo texto, Maria Teresa!

    Rizolete Fernandes

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  12. Rizolete:
    Meus botões ficaram felizes com seu comentário! Muito obrigada. Apareça sempre.
    Bjos

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