sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Vigília


Cor de burro quando foge.

Abriu um olhão do tamanho da cara toda e ficou quietinha quietinha. Até o vento uivante deu um tempo e o calorão grudou mais no corpo, tirando o ar. Sentou na cama e cruzou as perninhas, esperando o que vinha depois.

Cor de burro quando foge que cor é?

Respondi, mas a imagem ficou suspensa dentro de uma bolha e ela continuou meio sentada meio deitada ali, com a cabeça no meio de nossos travesseiros.

A história deu um nó. Ela dizia meio zonza que casa daquela cor não existia e, por mais que eu esclarecesse e mudasse o tom e a textura, as paredes desabaram e o telhado espatifou. A casa assustada foi pelos ares por causa daquele burro burríssimo da cor que não tingia mais as palavras e que me impedia de agarrar sua vontade de dormir.

O sono tinha chegado devagar, de fininho, mas os olhos dela que já estavam no limite do deslumbre, despertaram... Minha única opção foi correr atrás do burro desembestado naquela noite desmaiada e calorenta. Infinita.

(imagem: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/foto/0,,21262579,00.jpg)

9 comentários:

  1. Quando a gente pensa que eles já estão adquirindo maturidade para fazer as obrigações, mesmo à revelia, como escovar os dentes, dormir, mesmo com calor, lá vem eles de novo mostrando que só fazem mesmo o que querem...
    Ah crianças! Algumas não crescem nunca.

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  2. Há todo um "mundo desconhecido" dentro das palavras! O desafio é penetrar esse espaço de descobertas e, tenho para mim, são as crianças as "privilegiadas"!
    Quando aproveitam, o MUNDO, efectivamente, cresce, ficando da cor que nunca mais lhes foge!...
    Beijinho de parabéns pelo desafio! E... tenha um bom fim-de-semana!

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  3. À Italiana:
    Fazem o que querem com tanta personalidade, que nos desestruturam; como são belos!
    Beijos


    Caro Quicas:
    De fato, as crianças não usam as palavras sem que possam sentir-lhes a alma! Daí se tornarem radicais em se tratando desse "quesito". Daí se tornarem privilegiadas.
    Grande abraço e ótimo final de semana também!

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  4. Ah, as confusões que causa um burro que, ao fugir, perde a cor... E, afinal, qual é a cor do burro quando foge? Sabe que, desde minha longínqua infância, busco essa resposta? rs... Fique devendo-a aos filhos e, depois, aos netos...
    Beijos e uma boa noite para você.

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  5. Dulce:
    Mistério intransponível esse. Daqueles minúsculos, que parecem deixar no ar uma sensação de medo inexplicável, não é?
    Beijo carinhoso

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  6. Quanta sabedoria! O problema é encontrar solução. Os sonhos têm solução?

    Bom sítio! Ruth

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  7. Ru:
    Acho que não, mas temos como princípio tentar desvendá-los, mesmo sabendo que isso é meio utópico, não?
    Beijos

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  8. Eles sempre nos desconcertam e com isso se fazem amar ainda mais. Hoje tenho uns netinhos maravilhosos, que me dão a sensação de estar aprendendo com eles.
    Beijos pra você.

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  9. Deve ser uma delícia, Dade, imagino! O desconcerto é sempre um aliado do pasmo que reveste a vida de sabor.
    Beijos carinhosos

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