Damas

Bati o pé e não fui. Cruzei os braços e não chorei nem fiz estardalhaço; fiquei parada no meio do tapete verde, iluminado por velas que projetavam sombras amareladas pelas paredes da igreja. Sombras sem cara, magríssimas, que dançavam de lá pra cá em compasso diferente da música que tocava ali. Todos incentivavam o caminhar de meu vestido alvíssimo com faixa cor-de-rosa, olhando-me com sorriso morno e com cabeça estendida, enquanto flashes profissionais e amadores disparavam em minha direção como bombas de luz. Ousadia demais para meus seis anos quase sete, mas eu não ia pisar naquelas pétalas todas que jogaram no tapete compridíssimo, não ia mesmo. Alguém me deu um empurrãozinho e várias dezenas de olhos se arregalaram pedindo-me, implorando-me que eu cumprisse o percurso, de costas para as figuras gigantescas que apareciam na minha frente e que eles não viam, porque só olhavam para mim e para a miniatura de mim, que eu segurava. Se quisessem me tirar a boneca, paciência, mas eu tinha certeza que o coração dela deveria estar espremido como o meu.
Dois corações enlaçados que não quiseram ir e que não foram.

(imagem: http://www.google.com.br)