Quando Nina, a bailarina de Cisne Negro, tentou abrir os dedos do pé que formavam um único suporte inteiriço, entendi essa imagem como metáfora da plenitude, da dicotomia dentro/fora, claro/escuro, alegria/sofrimento, repressão/liberdade, suavidade/violência, vida/morte. Gostei do filme? Não, se o que esperava era um espetáculo de balé, com musicalidade que vai fundo e inspira e seduz e pacifica. Não, se pretendia espairecer apreciando o belo e a ternura com que se reveste a arte da coreografia sinônimo de harmonia e de inspiração. No entanto, sinto que gostei muito da reflexão que o texto dirigido por Darren Aronofsky proporcionou. O filme tenso marcou compasso ágil do começo ao fim; fiquei inteira ali, sentindo a respiração ofegante de Natalie Portman, ouvindo o clic clic da tesourinha e olhando os resíduos das unhas espalharem-se pelo chão para deixarem de ferir. O filme fez parar e olhar de frente para o espelho que, muitas vezes, fica meio esquecido no quarto escuro; fez os extremos de que somos revestidos ficarem trôpegos na estrada calorenta e vazia, tornando nossas vozes interiores os únicos sons audíveis por nossos ouvidos surdos. Que pai ou que mãe não se enxergou em sua criança crescida? Quem nunca se revoltou com situações de competitividade injusta? Que pessoa não procurou romper polarizações, com vontade de nunca mais precisar fazer o caminho de volta? O texto é complexo e muitos o estão entendendo como kitsch, com alguns exageros desnecessários. Vá lá. Na realidade, os dois cisnes nos habitam: o angelical, de porcelana e o mórbido, diabólico. Ambos coexistem nas águas do lago que nem sempre são tão límpidas e transparentes; e às vezes um tira o lugar do outro sem que muitas vezes não nos demos conta disso.
Quero também assistir ao filme em questão para saber como interpretá-lo. Já ouvi outras impressões. De qualquer maneira o próprio título nos induz a procurar uma significação, e a sua foi bem apropriada. Parabéns! RUTH
ResponderExcluirRu:
ResponderExcluirVale a pena ver. É instigante.
Beijos
Maria Teresa
ResponderExcluirEsse é um dos filmes que tenho em lista de espera, para assim que tiver um tempinho ir ver. Tenho ouvido críticas variadas mas, não há nada como ver com os nossos próprios olhos.
Beijinhos
Lourdes
Lourdes:
ResponderExcluirFaz refletir. Ninguém sai imune, mesmo que não goste.
Beijo
Olá Maria Teresa,
ResponderExcluirTenho andado um bocado longe, desculpe, porque sempre gosto de a acompanhar!
Vi o filme e gostei de ler a sua interpretação do mesmo,é um filme de paixões fortes, de arrebatamento e marcado pela música do «Lago dos Cisnes» que me empolgou bastante!
Há filmes dos quais gosto muito e que por vezes vejo mais que uma vez, este não o voltaria a ver, deixou-me também uma certa incomodidade!
Beijos,
Manuela
Manuela:
ResponderExcluirTambém gosto de retornar ao que me deixa em paz, aliviada e definitivamente este filme não foi o caso. Mas também mexer um pouco com essas paixões violentas de vez em quando vai bem.
Beijos