segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Destino


Acordou e ficou rolando na cama com o travesseiro na cara, para não enxergar a luz entrando pelos vãos da persiana quebrada, por que não mando arrumar a persiana? Um domingo tão cheio de sol, mas sem corrida no parque nem café na varanda.Gostaria de viver acreditando na ilusão e fazendo pedidos pras estrelas. Como os personagens de Woody Allen. Mesmo que a realidade passasse ao lado, morrendo de rir, escancarando aqueles dentes amarelos e cariados. Decidido. Ficaria de pijama espantando a insônia e a esperança de atender o telefone, recusando o convite para ir comer ceviche naquele restaurante peruano da Rua Tabapuã. Degustação de ceviche, agora deu pra gostar de peixe marinado com coentro. Nada disso. Levantaria e tomaria um banho de banheira com muita espuma, muitos sais e água morna. Os dedos das mãos e dos pés ficariam enrugados e lisos, chegando até a doer de tanto ócio. Nada de leitura, nada de trabalho extra, nada de nada. Hibernaria com seu humor sem direito nem avesso para recuperar a própria estima. Também não. Que ridícula! Com olheira manchada de rímel adormecido, ligou o computador; isso, faria sua primeira compra no supermercado virtual, caprichando na lista de tudo que é gordo e proibido por aquela nutricionista anoréxica do spa. De-lí-cia! Pronto, só faltam os sacos de pipoca: uns 8 e enviar. Ligou a TV, ainda estava na missa, depois teria globo rural; fez um café nespresso bem forte e acompanhou com um pedação de queijo branco. Resolveu tomar uma chuveirada e encheu a banheira, não se lembrava da última vez que tinha entrado ali. Ficou olhando os dedos murcharem; faria torta de figos pro Natal e mudaria o final trágico de Sofia no último capítulo do romance, acho que dá pra entregar até o final do ano, um mês inteiro de revisão, claro que sim. Pôs aquele brinco de bola bem colorido, um vestidinho combinando e pegou o livro para terminar de ler. Quando a campainha das compras tocou, arrependeu-se das 8 pipocas, que ideia, tanto sacrifício para emagrecer! Foi guardando tudo rápido e conferiu a lista entregue junto: 81 pipocas com sabores variados para micro-ondas! Pensou na burocracia da devolução de tudo aquilo e tirou o brinco, tirou o vestidinho e pegou a camisola do cesto de roupa suja. Com o travesseiro na cara, ouviu o telefone tocando e a voz insuportável da secretária anunciando o recado: vamos comer cebiche na Tapabuã?

(imagem: http://www.primerapaginaperu.com/article/entretenimiento/turismo/1117/)

13 comentários:

  1. Caros leitores:
    Algumas pessoas têm escrito no meu e-mail que estão com dificuldades de postar comentários aqui. Estou tentando resolver o problema, mas nem sempre tenho conseguido êxito. Peço-lhes que não desistam, pois bem ou mal as coisas hão de se resolver. O retorno de vocês é mais que bem-vindo sempre.
    Grande abraço

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  2. A Lourdes postou:

    Hoje venho tentar mais uma vez. É apenas uma experiência, pois há algum tempo que não aparecem os meus comentários.No último post que fez não aparece local para comentar, não sei se o problema é do meu computador se da net, se... não sei.
    Beijos
    Lourdes

    Lourdes:
    O problema com os comentários têm me deixado bem triste, pois esse retorno é mesmo a alma do blog.
    Agradeço seu empenho e espero que os problemas que ora enfrento devido a postagens e comentários possam logo ser solucionados.
    Um beijo carinhoso

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  3. Maria Teresa ´
    O último comentário que fiz como experiência já apareceu. Possivelmente já está tudo bem.
    Quanto à sua crónica, identifiquei-me muito com o que descreveu. Talvez devido ao período de reguardo após a intervenção cirúrgica, senti-me ansiosa por não poder retomar a minha vida e fiquei assim. Vingava-me a fazer coisas das quais me arrependia logo a seguir.
    Por aí a ansiedade também deve ser grande apesar dos motivos serem diferentes.
    Faço votos para que tudo corra da melhor forma nesse grande dia para a sua filha, embora saiba que para as mães os sentimentos são muito contraditórios. Mas é a vida e o que interessa é que os nossos filhos sejam felizes.
    Beijinho grande.
    Lourdes

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  4. Lourdes:
    Agradeço muito sua solidariedade carinhosa. Fazer e desfazer coisas em momentos de ansiedade são mesmo indícios de que o coração dispara. Dispara e não olha para trás. Ufa!

    Beijo grande para você também

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  5. Quer me parecer que a tábua de salvação para tanto "deixa pra lá" é o tal de cebiche da Rua Tabapuã que, espero, ela acabou indo degustar em muito boa companhia... Ou não?

    Beijos, Maria Teresa.

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  6. Estou fartíssimo de tentar e não tenho conseguido.

    Abraço.

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  7. Dulce:
    Também acho que ela deveria ir, não? Imagine perder um cebiche!!
    Beijo carinhoso

    Manuel:
    Agradeço sua persistência. Tive mesmo muitos problemas que achei seriam insolúveis (recorri a tudo e a todos), mas, aos poucos, os obstáculos foram ficando transponíveis.
    Grande abraço

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  8. Olá Maria Teresa,
    Já tive dificuldades, mas ultimamente isso não tem acontecido, vamos lá ver desta! rsssssss
    Já tenho tido debates acesos sobre o destino! Acreditar no destino não acreditar, eis a questão!!
    Relativamente ao texto eu revi-me em certos aspectos, não sou daquelas pessoas que se levanta determinada a fazer isto ou aquilo, às vezes é mesmo uma confusão na minha cabeça!..
    Gostei do retrato, está muito real e mesmo visual!
    Beijos querida amiga, que escreve tão bem!
    Manuela

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  9. Manuela:
    A instabilidade em alguns momentos da vida parece nos deixar fora dos trilhos, não é? Fico contente de que o retrato tenha sido fidedigno.
    Beijo carinhoso

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  10. Felizmente o destino se encarrega de proporcionar-nos "momentos" de felicidade, encontros providenciais e realização de nossos ideais. Sejamos-lhe gratos e aproveitemos das benesses com que nos presenteia. Muito bom.
    Bj Ruth

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  11. Nossa cabeça é como o universo lá em cima: explosões, derivações, acabamentos, começos, indefinições... Você compôs um momento-universo, Maria Teresa! Um grande abraço!

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  12. Ru:
    Saber aproveitar esses momentos faz parte da maturidade que, às vezes, não se apresenta de prontidão.
    Beijos


    Nivaldete:
    Nossa, como eu gostei desse "momento-universo"!
    Bjo carinhoso pra você

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