domingo, 8 de agosto de 2010

Pai e filho


Em 2007, houve um “cortejo de pirilampos” em Paraty. Eram os celulares que iluminavam os caminhos, abaixo do céu absurdamente estrelado, como contou Ruy Castro na sua coluna do último dia 6/8 da Folha de São Paulo (A2). Fiquei intrigada com a notícia: Joffre Rodrigues, cineasta, filho de Nelson Rodrigues, o então homenageado da FLIP naquele ano, ficara emocionado ao exibir “Vestido de Noiva”, o filme homônimo da obra de Nelson, que “entrara e saíra de cartaz quase em segredo”. Entretanto, depois de 20 minutos, Paraty ficou às escuras e o filme ficou no ar. Foi assim que, após uma hora de espera em vão, as ruelas da cidade fluminense, que anualmente reverencia a Literatura, ficaram em êxtase, mesmo no escuro, sentindo a emoção do filho homenageando o pai.

Durante a FLIP deste ano, Joffre Rodrigues morreu. Do coração. Talvez se lembrando daquele dia em que todos permaneceram sentados no cinema local, aguardando ansiosamente a continuação do filme que traduzia uma das peças mais significativos do saudoso “Anjo Pornográfico”, como se autodenominara o próprio Nelson.

Neste dia dos pais, reflito sobre essa coincidência. Deve existir uma espécie de laço transparente e indestrutível entre pai e filho, que se fortalece com doses de afeição cotidiana. Pra lá de genético, esse vínculo parece muito mais tecido de sensibilidades, parece muito mais misterioso, porque construído de pensamentos, de afinidades abstratas emolduradas de pequenas luzes que não se veem, mas que indicam que entre um e outro a distância é sempre curta e o caminho, sempre iluminado. Por pirilampos em cortejo. Por pirilampos explodindo de amor.

9 comentários:

  1. Interessante seu comentário sobre os "Rodrigues",pai e filho. Nada nais justo quando se sabe que o pai era chegadíssimo ao filho, tendo se dedicado à exaustão pela saude e pela carreira do Jofre. (Leia-se Ruy Castro,em "O anjo pornográfico") De forma que essa lembrança leva à consideração da paternidade, berço da família, da cidadania e do amor partilhado. Assim, com carinho,através desse exemplo (lamentando também a morte eo Jofre), reverenciamos todos os pais, vivos e falecidos e lhes tributamos, neste dia a mais querida homenagem. Bem oportuno!

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  2. Ru:
    Obrigada por seu comentário, que acrescentou muito ao que foi postado por mim.
    Beijos

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  3. Maria Teresa,
    Li a crônica do Ruy Castro a que você se refere. Fico especialmente sensibilizado com seu texto, pela perda recente do meu pai. Um grande abraço.

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  4. Marcelo:
    Há dias em que o que dói fica mais doído, mesmo depois de muitos anos. Assim é comigo.
    Grande abraço

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  5. Tem razão, Maria Teresa. A relação entre pai e filho tem um sentido que parece nos escapar. crônica de Ruy é comovente, assim como teu texto.

    Voltamos à ativa nos blogs. As férias valeram a pena.

    Beijo pra você.

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  6. Você pôs pirilampos nas palavras para dizer algo que, de outra forma, talvez ficasse escuro, sombrio... Um abraço grande, Maria Teresa.

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  7. Dade:
    Que bom você estar de volta! Faz muita falta!
    Beijos


    Nivaldete:
    Você que sempre aparece para iluminar!
    Beijos

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  8. Gostei da forma como escreveu sobre o dia do pai, indo buscar uma outra situação, que eu desconhecia. Aqui se aprende e o mais enriquecedor é a sua sensibilidade!
    Beijo,
    Manuela

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  9. Manuela:
    Obrigada. Suas visitas são sempre um abraço apertado.
    Beijo

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