segunda-feira, 5 de julho de 2010

Miojo

“No começo era o verbo, depois veio a HQ.” Foi assim que a manchete do "Folhateen" (suplemento do jornal Folha de São Paulo) de hoje anuncia a obra 90 livros clássicos para apressadinhos, de Henrik Lange e Thomas Wengelewski. Imagine que livro genial e que desafio resumir textos antológicos em apenas três quadrinhos!! Deu vontade de conferir e de conhecer a genialidade de Cervantes em Dom Quixote de La Mancha e de Kafka em O Processo. A cada ida ao banheiro, no mínimo três clássicos! Aliás, virou moda esta tentativa praticada por vários escritores contemporâneos, grandes escritores, de enxugar aquelas leituras cansativas e enfadonhas do passado e apresentá-las de maneira muito mais atraente à grande parcela da juventude ávida por novidades, mas contrária a perder seu tempo com inutilidades anacrônicas de estruturas linguísticas pra lá de complexas. Machado de Assis e Alencar simplificados... Quem entenderia Guimarães Rosa na fonte, neste tempo do aki e do blz? O mundo gira e os tempos exigem reflexões compactas, que nem chegam a patinar numa dimensão com aprofundamento superior a dois minutos de raciocínio continuado. “Os quadrinhos foram criados para fazer com que pessoas avessas às passadas de páginas possam soar mais espertas em festinhas”; já pensou como esse argumento vai fazer com que as filas se tornem quilométricas nas livrarias? O pensamento virou artefato de museu, besteira recusar a aderir essa ousadia literária em forma de miojo. :-DDD

13 comentários:

  1. "Literatura em forma de miojo" foi o espetacular.....rsss
    A cada dia que passa, o tempo encurta e a pressa aumenta. Comem as vogais, só usam consoantes, o que virá depois?

    Bjs

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  2. Maria Teresa!
    Querida, não me conformo com a essa língua do aki e do blz. Onde fica a arte da palavra?
    Estarei ficando fora de moda? Acho que sim..
    Mas, com certeza, teu texto continua primoros.

    BIJUXXXX

    Maria Alice

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  3. Vera:
    É mesmo desolador. Não há interesse pela leitura e o que aparece por escrito é de deixar cabelos em pé! O que acontecerá depois? Um pesadelo!
    Beijos


    Maria Alice:
    A Arte está lá jogada, cheia de pó, relegada ao esquecimento. Será esse o destino da sintaxe elaborada? Estará a palavra perdendo seu poder e seu encanto?
    Beijo carinhoso

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  4. Da minha parte preferiria o formato clássico, assunto para ser lido,lido,repassado, com sequência e lógica, forçando o pensamento a acompanhar,passo a passo a intenção do autor. Simplificar muito as coisas limita a nossa imaginação , perde-se muito no caminho. OK? RUTH

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  5. Ru:
    Nada como a fantasia que aflora de cada uma das entrelinhas... Nada como o poder das palavras que direcionam e que abraçam com todo seu poder de sedução...
    Beijos

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  6. Maria Teresa, há um sítio do governo com um verdadeiro tesouro de 'clássicos' da literatura e da música nossas. Está (ou estava) prestes a sair do ar por falta de acesso. Talvez estejamos assistindo à última geração de leitores, se os projetos de incentivo à leitura não derem bom resultado. Mas isso de se traduzir português para português... é triste. E ocorre isto: quem está mandando no mundo é o deus Lucro, mais do que nunca. Esse deus quer fazedores de coisas e consumidores. E quanto mais estúpidos, melhor para o sistema.
    blz nada!...

    Um abraço!

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  7. Olá amiga Maria Teresa,
    Estamos no tempo da generalização, o que interessa é o acontecimento em si, o núcleo da acção, desincentivando a imaginação e a reflexão, além de se começar a perder a riqueza da língua. O mundo anda muito apressado, para não chegar a lado nenhum!...Sou uma pessimista ou então muito passadista!...

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  8. Maria Teresa, permita-me discordar, apesar de achar a iniciativa ótima (afinal, readaptar uma obra de arte literária para um outra manifestação artística - cinema, HQ, teatro, etc. - é sempre algo instigante e esteticamente relevante).

    Mas cada coisa no seu lugar: o livro mencionado por você, com suas versões "quadrinísticas", cumpre um papel e as obras originais nas quais este se baseou, por sua vez, cumpriram - e ainda cumprem - um outro papel bastante distinto, e que é tão ou mais importante, na minha visão.

    As "leituras cansativas e enfadonhas do passado" representam um modo de pensar e uma concepção estética nem melhor nem pior do que qualquer outra: não há "prazo de validade" para as obras de arte.

    As "inutilidades anacrônicas de estruturas linguísticas pra lá de complexas" são parte inexorável da totalidade da obra. Para "bem" ou para "mal".

    Machado de Assis pode até ser "simplificado". Mas continuaria a ser Machado de Assis?

    Um abraço e perdão pelo longo comentário.

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  9. Manuela:
    De fato, fazer pensar, hoje, é um desafio pra lá de monstruoso. Tudo tem que ser rápido, para que possa ser deglutido sem nem mesmo mastigar. Difícil deixar de ser pessimista...
    Beijos


    Nivaldete:
    É assim mesmo! Que tristeza, não? Mundos e fundos para quem melhor traduzir o Português para o Português, da forma mais simplificada possível. O mais absurdo de tudo isso é que escritores renomados são os que realizam esse trabalho estúpido.
    Beijos

    Halem:
    Você discordou de mim só no primeiro aspecto. Respeito sua opinião de que é instigante readaptar a grandiosidade de um clássico para uma produção de HQ, mas discordo do estímulo que se faz, num mês de férias, num suplemento teen. Dizer que tomando conhecimento dos clássicos os adolescentes vão se dar melhor nas festinhas dói, não é? "É ótimo para 'posers'". Ninguém mais quererá ler nada que ultrapasse os 3 quadrinhos...
    No tocante à readaptação dos clássicos para que a linguagem fique mais acessível, concordamos; perdão se minha ironia ficou camuflada por minha indignação. Hoje as pessoas não têm paciência de ler um texto em página onde não haja uma ilustração, onde o texto seja longo... Perdeu-se a oportunidade de desenvolver análise mais profunda e elaborada, pois o tempo urge! Imagine simplificar Machado de Assis... É uma afronta, não é?
    Agradeço muito seu comentário sempre bem-vindo. Estava mesmo curiosa de saber o que você pensava a respeito de tudo isso.
    Abraços

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  10. Maria Teresa, os leitores obtusos são lamentáveis... Mil desculpas; não captei - "burraldo" que sou - a ironia de seu texto, numa primeira (e apressada) leitura. Mais uma vez, perdão.

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  11. Halem:
    Às vezes os textos é que são obtusos... Como lhe disse antes, tenho muito prazer de encontrar seus comentários por aqui.
    Abraços

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  12. Oi, Maria Teresa! Fico muito feliz sempre que me deparo com reflexões como esta por aqui! Mais uma vez, pensamos sobre como a vida moderna nos leva a sempre correr contra o tempo, nos impedindo, muitas vezes, de apreciar verdadeiramente o que é bom. Parabéns pelo post! Beijos!

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  13. Cassia:
    Como sempre, fico muito feliz com sua visita e com seu comentário tão gentil. Tudo é descartável, mas as pessoas não, felizmente!
    Beijo carinhoso

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