terça-feira, 22 de junho de 2010

Vazio


Está ausente. Sinal barbado de um ensaio que não se fez. Sumido. E a fábula da representação ficou jogada no chão do palco, pálida pálida, com aquela brancura própria do que há, mas deixou de haver. Assim é que os enredos se truncam, sem mais nem menos; assim é que a saudade nem chega a nascer. Assim é que a poesia rosa azul e verde adquire aquela palidez transparente de coisa inútil inútil, despida de tristeza e de canto e de doçura. Assim é que tudo ficou depois que ele se levantou e saiu, sem ao menos olhar para trás e discutir e argumentar e convencer e pasmar a incredulidade dos que o viram levantar e sair. Foi exatamente assim que aconteceu a evasão insípida do sonho pleno de frescor e de cor, que um dia apareceu de cara lavada e com vontade de ficar. E que ficou até o momento daquela ausência com gosto de coisa oca oca.

6 comentários:

  1. Tocante... A gente chega a testemunhar a cena. Esse ir decidido e frio, ai!... Sem dar tempo sequer de sentir saudade... Resta um vazio... cheio! Grande sensibilidade, Maria Teresa! Parabéns. Um abraço.

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  2. Nivaldete:
    Obrigada pelo comentário. Gostei de saber que você sentiu o vazio cheio.
    Beijo carinhoso

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  3. De facto também sinto esse vazio com bastante peso, cheio de muita coisa que não estando no texto, implicitamente se insinua no pensamento. Texto que para além do dito, muito mais pode dizer!...
    Beijinhos,
    Manuela

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  4. Manuela:
    O vazio, às vezes, fica mais dolorido que o que existe e estorva, não é?
    Beijos

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  5. Oi professora!
    Agora à noite, no silêncio da noite que entra, pensei: "hum, vou dar uma olhada no blog da professora Fornaciari".
    E não é que me deparo com um post intitulado "Vazio", momentos depois de ler o poema "Ausência" de Drummond, que se encontra aqui em cima da minha mesa. "Por muito tempo achei que a ausência é falta"... Já diz tudo.

    Muitos beijos da ex-aluna e agora jornalista,
    Fabiana Nanô

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  6. Fabi:
    Que maravilha de coincidência! E que delícia saber que você já é uma jornalista! Adorei vê-la por aqui.
    Beijo carinhoso

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