Ontem ainda, reencontrei A MAIOR FLOR DO MUNDO. Já a tinha conhecido bem antes, há bastante tempo, numa livraria de Lisboa, onde ela provavelmente germinara e crescera de forma surpreendente. Encantei-me com ela naquela época e agora mais ainda, quando percebi que a flor tinha crescido mais, bem mais. Ela está lá, dentro do livro em que Saramago desculpa-se por não saber contar histórias para crianças por lhe faltarem “um certo jeito de contar, uma maneira muito certa e muito explicada, uma paciência muito grande”. Mas mesmo assim vai em frente e narra a saga de um menino que sai pelos fundos do quintal e chega bem longe, “ao limite das terras até onde se aventurara sozinho”. A partir daí e com uma certa indecisão, aquele menino prossegue seguindo cheiros e texturas, até que chega ao mais longínquo dos caminhos de sua viagem espetacular de menino e encontra uma flor. Uma flor murcha de tão feia, que até comparei com a flor drummondiana, que nasceu no meio do asfalto! Pois bem, o menino especial da história achou que tinha de salvar a flor e enfrenta corajosamente outra série de trabalhos, até que ela se recupera e ele adormece debaixo de uma grande pétala perfumada onde estão todas as cores do arco-íris. Mais tarde, é ali que ele é encontrado e levado de volta para casa; as pessoas que o viam diziam que “ele saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos”, exatamente essa a moral da história.
Saramago foi, para mim, essa flor que me deu coragem para empreender uma viagem espetacular: por meio dele, conheci milhares de pessoas memoráveis que comigo se emocionaram com a mulher do médico oftalmologista, com Baltasar e Blimunda e com tantos outros que nos fizeram refletir sobre a verdadeira essência do homem e dos sonhos do ser humano.
A Saramago, minha homenagem; a Saramago, que saiu de sua aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos.
José Saramago
(6/11/1922 - 18/6/2010)
Saramago foi, para mim, essa flor que me deu coragem para empreender uma viagem espetacular: por meio dele, conheci milhares de pessoas memoráveis que comigo se emocionaram com a mulher do médico oftalmologista, com Baltasar e Blimunda e com tantos outros que nos fizeram refletir sobre a verdadeira essência do homem e dos sonhos do ser humano.
A Saramago, minha homenagem; a Saramago, que saiu de sua aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos.
José Saramago
(6/11/1922 - 18/6/2010)
Querida Teresa,
ResponderExcluirCheguei a ter esse vídeo no meu Blog, a história contada por ele próprio, com a sua própria voz, o que eu lhe terei feito????
É algo imperdível!!! Como pude???
Acabei de publicar no Sempre Jovens.
""O gosto pela vida é algo imprescindível para quem quer viver e ser feliz nessa vivência; a visão da morte, portanto, depende da visão da vida que temos; morrer não é o mesmo que experimentar a morte; além da separação entre matéria e alma, espírito e corpo, a morte é o ápice da realização do indivíduo, pois é somente nesse momento que ele se encontra por inteiro consigo mesmo."
Para mim, Saramago sempre foi único, eu amo tudo o que ele escreveu, falta-me ler Caim, que já está comigo há meses à espera de um tempo, de alguma serenidade que não tenho tido para o ler.
Choro hoje a sua morte! Doí...
Beijinhos
Ná
Fernanda:
ResponderExcluirTambém ainda não li Caim, mas conheço quase todos os outros. Também fiquei muito triste quando soube da notícia; estava no trânsito e recebi uma mensagem de minha filha; aliás, depois dela, recebi várias outras, de tão sabido por todos que eu tinha por Saramago um carinho bem maior do que simples admiração pela obra realizada. Na última vez que ele esteve no Brasil, em 2008, fui assistir à sua palestra e, apesar de inconformada com os radicalismos dele a respeito de Deus, pude mais uma vez emocionar-me com sua presença ainda mais de perto.
Beijo carinhoso
Olá, Teresa amiga! O meu aplauso para a admirável forma que encontrou de homenagear essa figura imorredoira das nossas letras, agora "preparado para viver"!
ResponderExcluirAgradeço sua visita à minha nova casa! Alegra-me que meu "castanheiro" lhe tenha trazido memórias tão saborosas... mas, pode crer, ele "pretende" dizer algo mais do que esses frutos deliciosos...
Beijinho
Quicas:
ResponderExcluirSaramago sempre viverá; é assim que acontece com os grandes!
Quanto ao castanheiro, pode ter certeza que bem mais que o sabor e o aroma das castanhas ele me trouxe: esse foi apenas o estímulo para que muitas histórias e lembranças e tradições bailassem em torno das sábias e profundas palavras com que você nos brindou.
Abraços
Minha amiga,
ResponderExcluirNão tive o privilégio de conhecer Saramago pessoalmente. Aprendi a conhcê-lo através de seus livros com profundas reflexões dos sentimentos humanos, como o amor, a solidariedade, a falta de consciência do homem, a sua solidão...Senti um grande conforto ao ler seu texto. Um grande abraço.
José Saramago não era menos português por não pôr a bandeira à janela na véspera de um evento desportivo. Acima de tudo, a sua essência era ibérica. Convém dizer que só saiu de Portugal devido à ostracização de Sousa Lara, comprovada agora com o episódio político revisionista da não presença de Cavaco Silva no seu funeral. "Viagem a Portugal" é reflexo de amor e do encantamento que sentia pelo país, pela sua beleza e cultura, pela classe trabalhadora, espelhada na sua identidade, mesmo que isso significasse ir contra a ideologia do seu partido, contra a maioria religiosa, contra o politicamente correcto. Para o seu espírito inconformado, a morte é pouco relevante. Como diria Saramago, "o fim duma viagem é apenas o começo de outra".
ResponderExcluirQuerida Dalva:
ResponderExcluirTambém para mim Saramago foi o escritor que sempre proporcionou reflexões de um crescimento interior muito significativo. Algumas pessoas deveriam ser eternas, às vezes me pego pensando nisso; Saramago estava nessa lista sempre. Fico contente que o texto lhe tenha trazido conforto.
Beijo carinhoso
Dylan:
Conheço bem o Viagem a Portugal. Numa de nossas estadas em seu país, compramos a edição ilustrada do livro e viajamos seguindo a descrição comovente de cada estrada, de cada aldeia. Muitas vezes nos emocionamos com a maravilha da linguagem, conferindo in loco o que ela traduzia.
Abraços
Muito bonita a sua homenagem, Maria Teresa...
ResponderExcluirUm abraço comovido.
Obrigada, Nivaldete.
ResponderExcluirSempre obrigada.
Bjos
Uma homenagem muito bonita, justa e sensível ao grande Saramago. Ele marcou sua passagem e vai ficar, é daqueles que não morrem nunca.
ResponderExcluirUm beijo grande.
Dade:
ResponderExcluirVocê disse bem: grande! Pessoas grandes são as que ficam, pois enraízam-se e abraçam com braços largos.
Beijos