sexta-feira, 14 de maio de 2010

No Pants


Eu não estava lá, mas soube de mais um flash mob que aconteceu ontem, dentro do metrô, aqui em São Paulo. A mobilização divulgada pelo Twitter, Orkut e Facebook convocava os interessados para tirarem as calças, todos ao mesmo tempo, ao sinal de um dos organizadores. Não faltaram calcinhas de bolinhas, cuecas sambas-canção de corações, mais meias de todos os tamanhos para aplacar o frio. Ao saírem do vagão, alguns continuaram em trajes sumários pelas ruas e barzinhos, loucos para que algum fotógrafo os flagrasse como de fato aconteceu e se registrou e entrou pela goela abaixo dos que se dignaram a conferir o que havia hoje, em nossos jornais de todo dia.
É sabido que mobilizações desse tipo são, historicamente, um recurso de muita valia; por exemplo, a Revolução Francesa aconteceu depois de uma ação inusitada do povo que, para pressionar a monarquia, acabou por fazer a família real refém, depois da tomada da Bastilha. Aqui mesmo neste espaço, registrei há algum tempo, uma aglomeração instantânea de pessoas numa das calçadas da Avenida Paulista: eram jovens que convidavam para um abraço - manifestação de carinho - , que surpreendeu tanto quanto as calcinhas minúsculas transitando pelo asfalto.
No entanto, o objetivo das cuecas, claro, havia um objetivo, era propor a busca da liberdade e do conforto, ferindo a liberdade de outras pessoas que foram obrigadas a utilizar o transporte público e a caminhar melancolicamente para seus destinos. Aliás, esse No Pants não foi inédito; em 2009 (http://www.gordonerd.com/voce-sabe-o-que-e-flash-mob), aconteceu o primeiro que, de tão significativo, foi bisado. A Revolução da França fez o mundo refletir, os abraços da Avenida Paulista reivindicaram ternura. Cuecas e calcinhas espelharam os ideais modernos deste mundo com cara de nádegas.

9 comentários:

  1. Maria Teresa, ouço e leio muita gente - e gente com tarimba - falar do "caráter revolucionário" das atuais tecnologias de informação e comunicação. Penso que, se tomarmos o termo revolucionário no seu sentido político estrito, ainda há muito pouco de "revolução" nos usos desses recursos, como demonstra esse infantil flash mob,criticado por você na postagem, e tantos outros que vemos mundo afora. Alguns desses outros, pelo menos, resultam numa performance artística.

    Um abraço.

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  2. Ótimo texto! Quando é necessário tirar as calças como forma de protesto, a mim me parece mais evidente o enfraquecimento da palavra.

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  3. Halem:
    É isso mesmo. Lembrou-me uma brincadeira de criança, parecida com aquele "tocar a campainha e sair correndo", do tempo quando as pessoas ainda tinham possibilidade de morar em casas, nas grandes cidades. Sem cara de revolução nem de arte.
    Abraços


    Eduardo:
    Diante da cena, as palavras parece que ficam engasgadas na garganta, não é?
    Abraços

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  4. "Cara de nádegas": um achado oportuno. Sugere cara de nada, também. Nadificação, nadeguização. Socorro, psicanálise! Pegando carona no comentário de Halem Souza, será que a tal revolução tecnológica está deixando parte da juventude naquela retrofase?... É de se perguntar pela qualidade da informação. Acho que está havendo também uma certa loucura por 'aparecer'..., ter os sonhados "15 minutos de fama". Sei não...
    Só sei que seu texto está muito bom.
    Beijos!

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  5. Oi, Nivaldete:
    SOCORRO mesmo! Sinto exatamente isto: um sentido niilista da existência de pessoas que praticamente estão chegando ao mundo. SOCORRO!
    Bjos

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  6. Olá Teresa,
    A sua alusão é aos Sans-culottes, revolucionários franceses, que se vestiam de maneira diferente dos «burgueses», não é?
    Aqui em Portugal, já se passou essa cena de tirarem as calças, a dos abraços ocorre com mais frequência e nas lutas estudantis, tiram mesmo calças e cuecas pondo em foco o rabo. São contestações renovadas, para substituir as que já não dão qualquer efeito. Para mim salutares, mau é quando os jovens, que devem ser revolucionários, são conservadores e não reajem a nada!
    Beijinhos,
    Manuela

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  7. Manuela:
    Sem dúvida que as reações que levem a um grande ideal são fundamentais e bem-vindas; no entanto, a que houve por aqui tinha conotação de coisa nenhuma, objetivando repúdio ao jeans ou a tudo que sinalize desconforto. Pareceu-me imprescindível para a "mobilization", desta vez, desfilar de fio dental e revelar as tantas tatuagens disto e daquilo; os quereres é que estão superficiais, esse é o ponto.
    Bjos

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  8. Maria Teresa, se o objetivo era repudiar o jeans, que fizessem o flashhmob no SP Fashion Week, ou dentro de uma loja famosa de jeans. Faria mais sentido!

    Adoro flashmob de dança, tem uns bárbaros, queria participar....rs

    Bjs

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  9. Oi, Vera:
    Ah, flash-mobs de dança são geniais! São os famosos minutos de êxtase, que fazem todos segurarem a respiração para deixarem o tempo parar. Preenchem o ambiente de leveza.
    Bjos

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