Minhocas?

Acho que também por isto que gosto tanto de cinema: filme rende e fica na cabeça o tempo todo, até o dia seguinte, nas fissuras de pensamento, enquanto se saboreia, por exemplo, um arroz com coco ralado e camarão. Tudo Pode dar Certo (Whatever Works) de Woody Allen apareceu na conversa também entre um gole e outro de vinho. Claro que apareceu. E nos fez ficar com aquele mesmo sorrisinho que no dia anterior todos no cinema tinham no rosto, enquanto acompanhávamos as explicações filosóficas do rabugento Boris (Larry David, que não deixa de ser o próprio Woody Allen), um professor universitário de física quântica "com uma visão global do universo", a uma ainda menina ingênua e caipira, novata na cidade grande. Gênios como ele que normalmente topam com cabeças ocas – "verdadeiras minhocas" – que não sabem lidar ao menos com os rudimentos do xadrez ou com o beabá do amor. Do amor em que essas minhocas acreditam, mas que é tão finito (segundo ele), como tudo na vida. Entre o gênio falastrão e inseguro e a mocinha bonita, superficial e cheia de clichês, há espaço para todos nós naquela comédia cotidiana de costumes, que faz rir e sair pensando sobre a pequenez de nossa condição, apesar de que, no fim, tudo dá certo. Ufa!

(Imagem: http://www.confrariadecinema.com.br/img/cena/pequeno/Tudo-Pode-Dar-Certo-3.jpg)