- Meia caixa de bis? – perguntei com a indignação de quem nunca devorara uma caixa de chocolate antes. – Estavam tão crocantes e fresquinhos! - ela disse abraçando sua barriga de grávida. – Mas depois, coloquei o resto no porta-luvas e peguei só mais um, de verdade. Mesmo porque logo em seguida, fiquei pasma assistindo à cena patética no carro ao lado, pois o farol estava fechado na avenida gigantesca.
Então ela contou: não deu pra ver direito a cara dele, mas a moça bonita, alta e bem arrumada, abriu a porta do passageiro e tentou sair, mas não conseguiu, pois ele puxava sua blusa branca e a trazia para dentro. Aos poucos, todos começaram a prestar atenção, até as pessoas que estavam no posto de gasolina ali ao lado. O farol abriu, a moça tentou novamente escapar, aos berros e com todos os palavrões dele. Tentou arrebentar os botões da brancura que a envolvia e que combinava com seus sapatos, também brancos. Ele era forte e ela tinha um cabelo loiro e comprido, que a fez ficar presa, refém, dentro daquele carro de vidros escuros, que ocultava uma história de que não deu para saber mais nada, mas fez com que todos os problemas, preocupações e conexões com o mundo virtual ficassem esquecidos. Até a outra metade da caixa de bis. Um taxista parece que chamou a polícia, mas o trânsito teve que prosseguir, cheio de pavor.
Centro de São Paulo. Fim de tarde. Caos e violência. Prisão. Sem dúvida que a segunda metade da caixa de chocolate teria sido mais que oportuna. Merecida. Só se pode esperar, no entanto, que a menina, no ventre da mãe, estivesse tirando uma soneca e sonhando com um mundo cheio de harmonia, parecido com aquele de onde necessariamente ela sairá em tão pouco tempo. Mundo onde ela está sendo aguardada com laços e fitas. Cor-de-rosa. Fitas que servem apenas para adornar e proteger. Mundo cheio de doçura, onde o único senão é consumir com a voracidade de um chocólatra uma caixa inteirinha de bis.
(imagem:http://www.google.com.br)
Histórias e contrastes de uma cidade onde alguém tenta desesperadamente ganhar a liberdade de mãos e mente opressoras... de uma cidade que vai abrigar uma nova, esperada, muito amada menina que traz consigo toda a esperança de seus pais... de uma cidade cheia de histórias...
ResponderExcluirE haja chocolate!...
beijos
Un placer visitar tu casa estimada amiga,y leer tu magnifico texto, gracias por tu visita y comentario dejado en mi querido blog.
ResponderExcluirBesos de MA para ti.
Dulce:
ResponderExcluirÉ verdade. Nós, que vivenciamos essa rotina, temos que ter um bom estoque de chocolate, sim.
Bis para seu "haja chocolate"!
Beijos
Ma:
Agradeço também sua visita carinhosa.
Beijos
Gostei do texto, Maria Teresa!
ResponderExcluirSempre um prazer vir aqui e ler teus escritos. Só me falta o tempo, linda!
Já presenciei uma vez um cara e uma mulher gritando e se estapiando dentro de um carro(de luxo)...não consigo esquecer a cena e o mal estar que me causou na hora...
Que bom que também existe o mundo dos laços e fitas cor-de-rosa! Ah, e muito BIS para adoçar a nossa vida!
beijoca carinhosa,
neli
"Mundo cheio de doçura" só se encontra mesmo dentro do ventre materno. Ou em determinados "núcleos" das telenovelas da Globo...
ResponderExcluirBom texto. Um abraço.
Neli:
ResponderExcluirMuito obrigada pela visita carinhosa.
Um beijo cheio de BIS para você.
Halem:
Procuro sempre ser otimista, mas a "doçura" da vida, muitas vezes, fica com gosto de adoçante. Adoçante em dobro, em se tratando das novelas globais.
Grande abraço.
Teresa,
ResponderExcluirObrigada pelo carinhoso recadinho. Seu blog continua lindo e gostoso de ler!
Um beijinho!
Mundo complicado, este. Às vezes bem triste, bem desanimador. Mas enfim, quando começa outra vida se renovam as esperanças de alguma mudança pra melhor.
ResponderExcluirBeijo, querida.
Andrea:
ResponderExcluirObrigada! Fiquei feliz com sua visita!
Bjos
Dade:
De fato, nada como uma criança para que minimizemos a dimensão às vezes inconcebível e insuportável da realidade. Nada como a pureza e a ternura.
Bjos
Adorei que tenha contado minha história!! Beijos...
ResponderExcluirVanessa
Vanessa:
ResponderExcluirFoi impossível deixar pra lá!
Bjos