Mimo

Com relíquias de todos esses anos nas mãos, estou. É um momento de balanço, de retrospecto, de ficar sentada na varanda, ao lado da jabuticabeira, lendo o livro especial que me chegou pelo correio de presente. Gastarei meu tempo inteiro deixando que a poesia conduza meus olhos e guie meus pensamentos para o helicóptero que passa sem que eu o possa ouvir longe longe lá perto dos prédios envidraçados longe. É que hoje acordei com mania de me mimar e de ficar alegre e de sentir o gosto das jabuticabas que nascem reluzentes na pequenina árvore já grávida de sabores. Hoje é daqueles dias que se alguém me perguntar como ensinar ao inverno gelado as primaveras, tecerei uma resposta cheia de flores e de perfumes como se fosse música terna ecoando nos trinados dos bem-te-vis. Meus ouvidos estão como conchas sonoras embalando meus passos pelas veredas ensolaradas onde as borboletas dançam em crepúsculos de veludo. Com que doçura revejo outros dias como o de hoje e tantas pessoas queridas, tantas, que ternamente chegam a mim cheias de abraços carinhosos. Hoje esqueço os jornais e descubro-me contemplando o tempo e meditando essas relíquias fluidas, transparentes, cheias de vida. Hoje vou me dar ao luxo de saborear meu céu interior. Azulado e límpido.