terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Carnaval


Um anjo de cara plasmada olha pelo buraco das telhas vermelhas o carnaval brilhante e nu assim como os fotógrafos registram flashes cuidando para não levar pisões com cheiro de cerveja suada. A menininha larga a mão da mãe. Aparece na capa do jornal no dia seguinte misturada com sereias e galos e peixes e caras enormes de barba e bigode e vacas e poetas e amantes de um dia só. O mundo inteiro olha seus olhos pretos enormes e sente inveja de sua esperteza: com apenas cinco anos ela flutua numa tela de Chagall neste lugar inundado de ritmo e fantasia. Sua angústia, ninguém percebe. Mas há anjos cuidadosos nos telhados nas arquibancadas no asfalto da avenida. Um deles acha sua mão assustada e ambos vão em busca da melodia.


(imagem: http://www.google.com.br/imgres)

6 comentários:

  1. Maria Teresa,
    gosto DEMAIS do seu estilo, destes seus mergulhos introspectivos. Sem desmerecer este do carnaval, o texto anterior, "Volúpia"', é espetacular. Meu abraço e minha admiração.

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  2. Marcelo:
    Agradeço muitíssimo seu comentário e seu estímulo. De fato, mesmo que tente fugir da introspecção, retorno a ela de braços abertos. Invadindo-a. E você ter notado essa minha preferência me deixa muito feliz.
    Grande abraço

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  3. Uma curiosidade, Maria Teresa: por acaso Felipe Hellmeister é seu parente? Ele foi diretor de escola em Americana, pessoa extremamente severa e disciplinadora, que marcou época à frente do então Grupo Escolar Dr. Heitor Penteado. Aguardo sua resposta. Meu abraço.

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  4. Marcelo:
    A família Hellmeister é bem grande e a ramificação que se espalhou por Americana e Campinas (em Campinas há muitos), eu não conheço. Mas aqui em São Paulo também houve vários parentes meus que foram diretores e/ou trabalharam com educação. Você teve contato com o Felipe Hellmeister?
    Abraços.

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  5. Sim, Maria Teresa. Eu tinha entre 9 e 10 anos quando ele era o diretor da tal escola. Trajava invariavelmente um Safari bege e era muito, muito bravo. Se via alguma criança um pouquinho fora do alinhamento da fila antes da entrada pra aula, pegava o coitado pela orelha e quase erguia do chão. Tive a sorte de nunca ter sido pego por um descuido qualquer... Mas tenho, particularmente, boas recordações do temido Felipe!
    Abs

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  6. O Carnaval é mesmo assim: aguça fantsias, veste a realidade de roupagens coloridas, participa do côro do público em sua mágica alegoria e vive uma outra vida. É tempo de esqucer, é tempo de sonhar... É bom o Carnaval!

    Bj Ruth

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