Vi o palhaço exatamente no momento de atravessar a linha do Equador. A tinta escorrida da cara e o elástico frouxo do nariz lhe davam aparência descuidada e triste triste. Como eu não tinha a mínima intenção de participar daquela festa americana à fantasia, concentrei-me no cheiro do mar. Na imensidão do mundo partido em dois. Na coragem de abandonar o punhado de mim para trás do lodo, do muro limítrofe do mundo. Na presença do quase menino de riso inflado e de pernas trêmulas, saltando em piruetas desengonçadas.
Identificamo-nos. Mesmo com toda a náusea grudada desde a saída do porto, esqueci-me de minhas mãos mareadas e registrei aquele rosto. Quadro expressionista: enxergava o palhaço, é claro, mas a pintura vinha do de dentro, cheia de texturas e de vermelhidões; de guizos e de agonias lentas. Nunca mais cruzei a linha dos hemisférios. Aprendi a viver apenas com uma pequena parte daquilo que há em mim e finjo não perceber meus fragmentos. Junto-os como se fossem pétalas e vou espalhando-os nas telas. Invariavelmente com cara branca e nariz vermelho, vermelhíssimo.
(imagem: fragmento de pintura em tela - Maria Teresa Fornaciari)
PASSEI E VI O QUE TINHA DE NOVO!!!
ResponderExcluirTRISTE............... MAS UMA PRESENÇA!!!!
1 BEIJO LÍDIA
A expressão, o olhar do palhaço, na tela, são impressionantemente tristes. Tristes como costuma ser a alma de todo palhaço, entre falsos risos e muitos guizos...
ResponderExcluirBeijos e um bom dia, Maria Teresa.
Lídia:
ResponderExcluirAs presenças às vezes são vincadas, não é?
Beijos
Dulce:
Talvez eles possam ser reconhecidos como o estereótipo de muita gente, acredito. Muito mais do que possamos calcular...
Beijos
... ele é meu amigo, meu cúmplice, as vezes é eu...
ResponderExcluirtriste? ... não ele não pode ser triste ...
por trás da cara branca e boca também vermelhíssima sempre esboça um sorriso...
a dor e o choro podem ser inventados, mas a felicidade só vale se for verdadeira...
ele chegou com a tinta fresca... já tem 5 anos e o cheiro bom e a energia da minha casa gostosa!
é meu! é único! Y E S!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
acrobacias???????? é o que fazemos todos os dias
Esther
Você era a Nanã...agora é poeta, artista, professora, amiga,filha, irmã, esposa,cunhada, mãe, tia, madrinha,sogra e avó mas é ÚNICA... e como você nunca vai existir mais ninguém!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Y E S!
ExcluirEsther:
ResponderExcluirAmigos são assim: reconhecidos mesmo fora da moldura...
Adorei você tê-lo encontrado aqui!
Beijos
Esther:
ResponderExcluirDesse jeito eu inflo inflo inflo!! Obrigada querida.
Beijos e beijos