Nos minutos seguintes, fiquei olhando aquela menina vestida de cores e de covinha numa das bochechas, os olhos dela mudos, fixos nos meus, perfeitamente mudos.
Estávamos no meio da estrada, num desses lugares com cheiro de pão fresco, loucos por um café e uma trégua do percurso de seis horas intermináveis. Deixei-o na fila do caixa e saí, passando por uma máquina vermelha de bolinhas pula-pula, de chaveiros encapados e de balas em forma de coração. Foi quando vi a mulher baixa e larga, alagada de formas e com cara exausta, como quem não aguenta mais carregar outra vida inteira dentro de si. Estava parada ao lado da máquina vermelha, distraída de suas responsabilidades e da menina que vinha voando em sua direção, pisando no ar, com os bracinhos floridos abertos.
Era uma menininha de uns seis anos, miúda, com duas tranças bem feitas no cabelo esticadíssimo, presas por um elástico amarelo ouro. Vinha sorrindo em todos os traços do rosto, que evidenciavam ainda mais sua covinha numa das bochechas coradas. Foi tudo muito rápido: os bracinhos finos abraçaram a barriga pesada com tal alegria, que o bebê semi-pronto deve ter ficado ansioso por deixar o conforto do de dentro para retribuir o carinho desmedido. A garotinha parecia fazer a coisa mais bela de sua vida. Mas as coisas belas vêm impregnadas de imperfeições imperceptíveis, que se tornam gigantescas aos olhos de quem é incapaz de sentir as cores ondeando no ar, mais leves que o nada.
Até a máquina vermelha sentiu o plaf estalado e surpreendeu-se com a marca dos cinco dedos gordos na bochecha da covinha, porém as lágrimas da menininha foram sugadas, todas elas. Alguns fios de seu cabelo esticado soltaram-se do elástico, desequilibrados, mas as flores de seu casaco mantiveram-na ereta na fragilidade de suas perninhas magras. Na mesma hora, fixou seus olhos úmidos nas bolinhas pula-pula, nos chaveiros encapados e nas balas em forma de coração. Respirava com dificuldade, tremia e fingia parecer uma menininha de seis anos assustada. Foi quando me viu.
Nos minutos seguintes, a menina vestida de cores de covinha numa das bochechas ficou olhando para meus olhos perplexos e mudos, fixos nos dela, desesperadamente mudos.
(imagem: http://www.google.com.br/imgres)
Pois é, Maria Teresa. A vida tem dessas coisas desconcertantes, e as crianças, velhos, os mais fracos costumam ser suas vítimas prediletas.
ResponderExcluirMais um texto excelente.
Beijo, ótimo feriado e sempre esse talento.
Nossa! Me senti como a menina... senti o plaf com esse seu texto... está me ardendo o coração! Escondo as lágrimas.
ResponderExcluirbeijo choroso
Quantas e diferentes emoções para explicar a mecânica do abraço... A da menina foi trigueira, feliz e oportuna... A sua, que observava, foi bela e comunicativa. Tudo por um abraçao!
ResponderExcluirRuth
Dade:
ResponderExcluirSeu carinho já é um estigma! Obrigada.
Beijos
Arianna:
Só derramando um rio delas diante daquela cena!
Beijos
Ru:
Abraços têm o poder de fazer crescer também, não é?
Beijos
Olá, Maria Tereza,
ResponderExcluirComo estão as coisas, tudo bem com você?
Saudade.
Eu também estou aqui com meu coração, não diria dilacerado, mas que chegou bem perto, chegou!
Meu Deus, que reprodução! Você pintou o quadro tão bem delineado, que conseguimos, passo por passo visualizar todas as cenas...
Pena existirem ainda adultos que desprezam um abraço de um infante! Pena. Se pudesse, queria TODOS esses abracinhos perdidos por aí...
Magnífico!
Parabéns, você é grande escritora e sabe disto.
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Vim até você, minha querida, também para avisá-la que meu blog BOTÕES DE MADREPÉROLA estão completando niver...
DIA 1º DE JULHO, portanto, amanhã, sexta-feira.
E você, Maitê, é minha convidada de HONRA!!!
Sua presença é imprescindível! Venha e escolha um lugar especial que preparei para grandes amigos!!! Afinal, você é parte integrante desta minha festa.
Um afetuoso abraço,
e aguardo-a, feliz.
Graça:
ResponderExcluirHonra é receber você aqui, tão carinhosa como sempre. Certamente é que passarei pelos BOTÕES DE MADREPÉROLA para engrossar o pic-pic. Desde já, parabéns!
Beijos
Meu Deus como um gesto espontâneo e tão generoso, pode ter uma resposta tão brutal!...
ResponderExcluirFicaria como a Teresa estupefacta e solidária.
Beijinhos,
Manuela
Manuela:
ResponderExcluirDói na alma mesmo, não é?
Beijos pra você
Linda,
ResponderExcluirobrigada pela presença em minha festa! Você a abrilhantou ainda mais!! você percebeu, né, aquela turma é uma graça!rs
Ando afastada, porque preciso estudar, Ma. Teresa...mas jamais me esqueço de você e seus sábios comentários em meu Projeto, nos Botões Madrepérola.
Um forte abraço, amiga, e que Deus a ilumine sempre para continuar escrevendo assim, tão lindamente!
Beijos!
Passei para estar aqui um pouco. Desejo esteja
ResponderExcluirbem.Beijinho e bom fim de semana.
Sinfonia:
ResponderExcluirAgradeço muito seu carinho. Estive um pouco afastada por problemas já solucionados, felizmente.
Beijos