Sabe aqueles momentos quando você tem vontade de aplaudir? Quando percebe que está rindo pra dentro e pra fora? Pois é, foi assim que me vi quando o filme Discurso do rei terminou, com vontade de ficar ali e assistir a tudo de novo. E nada de paisagens suntuosas ou de cenas de sexo ácidas ou de efeitos especiais, nada disso. Enredo até que muito simples, número reduzido de personagens, mas com densidade que vai cutucando, cutucando e chega fundo, fazendo refletir sobre problemas essenciais do relacionamento humano. E com humor e com graça e com leveza.
História de um rei da Inglaterra com sua gagueira e hábitos canhotos camuflados; de uma sala atípica de um pseudofonoaudiólogo plebeu e australiano, para quem o bom senso e a autoestima são virtudes acima de todos os trâmites burocráticos, mesmo que o contexto seja o da realeza, o das mesuras que se vêm arrastando entre cortes e coroas. A tensão de Colin Firth, o rei, deixa o ambiente do outro lado da tela em suspense, como se houvesse uma linha imaginária grudada nas palavras que ele sabe quais são, mas que não afloram e não se equilibram no caminho entre suas cordas vocais e seus receptores aflitos e constrangidos. As bochechas se enrijecem e a comunicação fica muda, com sons engolidos sem que tivessem sido mesmo previamente mastigados. E a grandiosidade do espetáculo se completa com a sensibilidade de Geoffrey Rush, o terapeuta pelo avesso, que segura o outro lado do fio e traz os vocábulos empoleirados com exercícios de trava-língua, de descontração, de invasão aos domínios interiores mais escondidos do rei que, antes de tudo, é um ser humano com fragilidades comuns, encobertas pelos requintes de quem tem um trono a zelar.
Se há questões de antissemitismo nos bastidores (o que parece nublar seu êxito associado às várias indicações de Oscar, neste momento em discussão), não se pode esquecer de que esta é uma história gorda de realidade, sobre um monarca que foi exposto com mais humanidade do que até então se conhecia; viveu nos tempos da guerra e, pelo que se viu, encontrou nos discursos de Hitler uma força poderosa de retórica e de convicção de que se alimentou como uma criança esfomeada. Tudo girou em torno da fala e do poder da palavra, que às vezes é perversa e leva à loucura, mas que também preenche que comove que torna as pessoas mais solidárias e mais dignas de serem não apenas reais, mas verdadeiras.
História de um rei da Inglaterra com sua gagueira e hábitos canhotos camuflados; de uma sala atípica de um pseudofonoaudiólogo plebeu e australiano, para quem o bom senso e a autoestima são virtudes acima de todos os trâmites burocráticos, mesmo que o contexto seja o da realeza, o das mesuras que se vêm arrastando entre cortes e coroas. A tensão de Colin Firth, o rei, deixa o ambiente do outro lado da tela em suspense, como se houvesse uma linha imaginária grudada nas palavras que ele sabe quais são, mas que não afloram e não se equilibram no caminho entre suas cordas vocais e seus receptores aflitos e constrangidos. As bochechas se enrijecem e a comunicação fica muda, com sons engolidos sem que tivessem sido mesmo previamente mastigados. E a grandiosidade do espetáculo se completa com a sensibilidade de Geoffrey Rush, o terapeuta pelo avesso, que segura o outro lado do fio e traz os vocábulos empoleirados com exercícios de trava-língua, de descontração, de invasão aos domínios interiores mais escondidos do rei que, antes de tudo, é um ser humano com fragilidades comuns, encobertas pelos requintes de quem tem um trono a zelar.
Se há questões de antissemitismo nos bastidores (o que parece nublar seu êxito associado às várias indicações de Oscar, neste momento em discussão), não se pode esquecer de que esta é uma história gorda de realidade, sobre um monarca que foi exposto com mais humanidade do que até então se conhecia; viveu nos tempos da guerra e, pelo que se viu, encontrou nos discursos de Hitler uma força poderosa de retórica e de convicção de que se alimentou como uma criança esfomeada. Tudo girou em torno da fala e do poder da palavra, que às vezes é perversa e leva à loucura, mas que também preenche que comove que torna as pessoas mais solidárias e mais dignas de serem não apenas reais, mas verdadeiras.
"Qualquer um sabe proferir palavras enganadoras; as mentiras do corpo exigem outra ciência."
ResponderExcluirBeijo.
Perfeito, Manuel. Mas o filme deixa essas ranhuras de lado e abraça a solidariedade e a coragem; é um convite à amizade sem fronteiras, daí sua beleza.
ResponderExcluirGrande abraço.
Aguçou-me o desejo de ver o filme em questão. Sua apresentação foi sugestiva e fiel. Sei que também vou aplaudir. Obrigada RUTH
ResponderExcluirRu:
ResponderExcluirAh, esse merece mesmo aplausos e aplausos e aplausos...
Beijos
Maria Teresa
ResponderExcluirHá filmes que ficam na nossa lembrança por variadíssimas razões, muitas delas alheias à representação, mas há aqueles em que os atores se envolvem de tal forma que conseguem fazer dum enredo simples, um grande filme.
Não vou perder.
Beijinhos
Lourdes
Lourdes:
ResponderExcluirDe fato, alguns filmes existem nas nossas memórias com falas que até sabemos de cor; no entanto, não cansamos de revê-los, pois eles mexem conosco, com nossa vontade de rir e de chorar.
Beijos
Olá Maria Teresa,
ResponderExcluirEu também aprecio filmes de conteúdo histórico e apesar de conhecer toda a história da abdicação do rei e o motivo, não conhecia a gaguez do irmão, o que realmente se torna insólito devido à posição que tem, mas são pessoas como outras quaisqueres! O trabalho dos actores, nomeadamente o de Colin está excepcional. Bastante emotiva também a ligação afectiva entre os dois, porque os dois lutaram pelo mesmo objectivo.
Beijos,
Manuela
Maria Teresa,
ResponderExcluirUma resenha e tanto este seu post. Já estava com vontade de assistir a este filme, e agora é que ele não me escapa. Um grande abraço.
Manuela:
ResponderExcluirÉ um verdadeiro hino à amizade sincera, né?
Beijos
Marcelo:
Tenho certeza de que você também vai aplaudi-lo.
Abraços
Um príncipe que não queria ser rei mas o foi porque acreditava que era sua obrigação. O fez da melhor maneira possível ganhando respeito de todos cidadãos britanicos. Uma esposa fiel que o amava muito e que o ajudou a superar os obstáculos impostos pela vida! Duas filhas: uma virou rainha e desempenha seu papel com a mesma dedicação do pai. Uma história sobre a condição humana que deve ser vista pelo maior número de pessoas possível. E que possamos aprender a lição!
ResponderExcluirArianna:
ResponderExcluirNossos aplausos estão chegando lá nos ouvidos dos jurados hoje!
Beijos
Maria Teresa,
ResponderExcluirEu já assisti duas vezes este filme, mas gostaria de ter conseguido escrever uma resenha tão boa como esta tua!Parabéns! Infelizmente não tenho este dom com as palavras...Muito bom te ler!
beijo
Neli
Neli:
ResponderExcluirObrigada pela gentileza sempre do tamanho de um abraço.
Beijo