quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Blefe
Estou doido de vontade de comer aqueles palitos de gergelim. Meu estômago ronca e se espreme e interrompe a concentração do texto aqui na tela. Crocantes, deliciosos, mas estão lá na cozinha debaixo do nariz da empregada cantando aquelas músicas todas dela. Permiti, tá certo, mas os agudos desafinados entram pelos meus tímpanos e desviam as palavras que devem ser escritas; agora não dá mais pra voltar atrás, terei que aguentar o peixe fora d'água. Os palitos vão ter que ficar em outro lugar... É tão bom ir digitando e mastigando, o gergelim parece que ajuda a raciocinar, principalmente quando as palavras resolvem sumir ou dar um pontapé na frase suspensa, prestes a aparecer na sequência. É que o almoço foi há pouco, não dá pra ir buscar os palitos sem mais nem menos... Vou tomar água e, se der jeito, abro o armário e pego o que quiser; ora bolas, imagine me preocupar com o que a fulana dos acordes irá pensar de mim, que absurdo. ABSURDO. O quê? Você trabalha muito? Aumento, agora? Imagine aumento com apenas quatro meses de casa... A antiga patroa ofereceu mais? Vou ver, agora não dá pra falar sobre isso, estou terminando um trabalho difícil, amanhã. Ai, ai, que sala abafada, e bem agora o ar condicionado mortinho mortinho; também com essa chuvarada todo dia, vai ver pifou de vez... Ai, meu Deus, os palitos... não vai dar pra voltar. Volto? Sim? Ela ligou dizendo que vai duplicar seu salário? O quê? Você fica até eu arranjar outra? O ronco no estômago vai me engolir com texto incompleto e tudo. Pode ficar um mês de aviso prévio? Sabe de uma coisa, minha filha, pode ir. Quem sou eu pra ficar segurando você aqui, com uma oferta tentadora dessas batendo à porta? Vá hoje mesmo! Sem choro, menina, o salário vai chegar até pra você comprar um rádio mais moderno, pode ir. Ai, que calor! Epa, pera lá! Dispensa de aviso prévio e pagamento em dobro não combinam com choro nem vela. Salário gordo, você disse, gordíssimo, imagine! Ufa, meus palitos não vão precisar sair do armário deles; vou poder transitar pela casa até de cueca rasgada! Agora, as palavras vão ter que me dar uma trégua: sem cantoria, elas terão espaço aqui, ENORME; tanto espaço, que vou fazer estoque de palitos de gergelim. E de orégano e de queijo, ufa!
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Bom dia Maria Tereza
ResponderExcluirOra, lá, sempre se tira proveito de tudo, né, não? Não mais ouvir uma cantoria esganiçada que nos espanta as palavras, poder andar de cueca rasgada (e até sem ela) pela casa a seu bel prazer, comer quantos e palitinhos de gergelim quiser, quando quiser... É melhor que um certo cartão de crédito - "Não há dinheiro que pague"... hehehehe...
beijos
"Elas" podem quase tudo: faltar na segunda-feira,cantar alto,"pegar"virose,"matar" parentes distantes para 3 dias de luto..rsrs,"enrolar" o serviço, quebrar o pé....etc...
ResponderExcluirA patroa tem só o direito de poder despedi-las.
Quem sabe a era dos Jetsons chegue logo e poderemos ter simpáticos robozinhos eficientes para nos ajudar!
Um beijo !!
Roseli
Dulce:
ResponderExcluirMelhor mesmo, muuuito melhor! Adorei seu comentário.
Beijos
Roseli:
Você já viu aquele robô baixinho, que parece uma sanduicheira e que anda pela casa fazendo faxina? Eles já estão chegando, oba!
Beijos
Sou super a favor dos robos, o ser humano tem mais em que empregar sua força criativa, com certeza.
ResponderExcluirEntre a cantoria esganiçada, palitos de gergelim (nunca comi isso!), trabalho a ser escrito, lá está uma empregada doméstica (que deve ter mais coisa dentro de si - e que vale a pena saber - do que um gosto musical de qualidade duvidosa e reivindicações de alguns reais a mais no ordenado). Pensem nisso, patrões desalmados, hehehe... Gostei do ritmo de seu texto. Um abraço!
ResponderExcluirÀ Italiana:
ResponderExcluirOs avanços da tecnologia invadem nossas casas de um jeito, que mesmo não gostando disso ou daquilo agora, não há como não nos rendermos às modernidades, né?
Beijos
Halem:
Essa empregada doméstica já virou protagonista de um novo texto. Valeu!
Abraços
Mas que blefe fora de hora! Essa novela é conhecida, bem conhecida! Contudo, V. tem a compensação de poder saborear seus palitos de gergelin... uma coisa tão simples, mas tão oportuna... Descanse, outra novela vai começar, vá juntando seus palitos, prepare-se...!
ResponderExcluirBj Ruth
Maria Teresa... melhor com elas do que sem elas... se ela se for você terá menos tempo prá escrever seus belos textos! Terá que se dedicar aos trabalhos domésticos! Então dos males o menor. E também, ela serve de inspiração (veja o texto acima). Quanto aos palitos de gergelim, minha amiga, vá lá... pegue-os sem culpa e os saboreie. Assente-se então e deixa a criatividade florir. Estamos todos esperando no jardim.
ResponderExcluirbeijos
Ru:
ResponderExcluirÀs vezes a realidade se projeta na ficção mesmo e tudo se mistura e vira uma coisa só. No entanto, de verdade mesmo, por aqui, só os palitos de gergelim...
Beijos
Arianna:
Vivemos de inspiração em inspiração, todos nós, não é? Obrigada pela delicadeza sem limite de seu comentário cheio de carinho.
Beijos
Oi, poetisa amiga, Maria Teresa!
ResponderExcluirVim só para deixar um abraço e desejar ainda mais sucesso!