quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Ele e Ela

(Imagem: http://www.google.com)
Chegaram quase juntos, à hora marcada. Caminharam iluminados ao longo da avenida poeirenta, mas nem sentiram a aspereza do dia insuportável pela temperatura exageradamente alta. O importante era estarem a sós, ele e ela, independente de todos os que passavam apressados ou sem compromisso. Sentiam-se plenos e viviam o momento, experimentando a maciez da claridade da tarde desbotada. Indescritível o ardor do peito; o coração parecia correr desatinado, como se as pernas não fossem suficientemente competentes para valorizar a importância da situação. O descompasso interior desorientava, embriagava.

Quando se viram, a alquimia dos olhares se perfumou dos aromas mais puros, desconhecidos. Certeza de nada havia, apenas necessidade de estar perto. Andaram lado a lado, desviando-se dos buracos, sem mesmo notá-los. Às vezes, em consequência do caminhar de tanta gente que passava por eles, um roçava no outro e havia uma sensação de êxtase. Quase não se falavam, mas estavam ali, andando sob o sol raivoso, ele e ela.

Sem que se dessem conta, porém, do céu amarelado de nuvens traiçoeiras, pingos grossos de chuva invadiram o calçamento. E a magia se desfez. Da incerteza que tinham, passaram a sentir o calor que emanava do concreto da calçada esburacada. O que parecia vago e tênue concretizou-se e eles claramente enxergaram as respostas do que antes era inexplicável. Encharcados, reconheceram suas identidades constrangedoras e únicas; não havia mais elo, não havia mais sabor, apenas egoísmos parciais que se interceptavam. Na mesma avenida, seguiram separados, sós, nunca mais ele e ela.

(do livro Encontros e Des-Encontros)

6 comentários:

  1. E tudo é pó...
    Ô vida, ô azar...

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  2. O segredo do egoismo, pensou eu, está no fato de muitas vezes cobrarmos demais do outro e esquecer que é necessário primeiro dizer o que se deseja, o que se prefere. É dícícil adivinhar o que o outro anseia. Até se tenta e tudo, mas é mais difícil, creio eu.
    Gostei da moça voando. Identificação pena e absoluta.

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  3. Credo. Credo num gostei desse post não, Maria. Tem um elo sim; as mãozinhas grudadas. Se o moço parasse de fazer força pra ficar no chão ficava mais fácil.
    Sou adepta do final feliz. Me disseram que existe e eu acreditei, agora não desacredito mais.

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  4. Caro Anônimo:
    Pois é, mas mesmo no meio do pó, alguns diamantes reluzem, ainda bem.
    Abraços


    Amanda:
    Infelizmente os sonhos, muitas vezes, não são reflexos da dura travessia cotidiana. Mas a ilusão sobrevive.
    Bjo

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  5. Nossa profa,

    me arrepiei no fim. Por mais triste que seja as imagens são lindas.

    beijos

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  6. Daniel:
    Como fico feliz quando vejo o flash dessa máquina!
    Um beijo muito carinhoso pra você!

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