terça-feira, 3 de novembro de 2009

Beabá


Já passam dos cinquenta os dois. Ela está no R; ele no S. A letra dela é uniformemente arredondada, mas a leitura causa-lhe constrangimentos e as palavras dependuram-se num fio transparente e dificultam-lhe as relações. Ele lê melhor, mas desenha mal as letras na folha nua, como se o lápis escorregasse de suas mãos acostumadas a trabalhos menos sofisticados. Ambos têm o mesmo ideal, mais difícil para quem já passou dos cinquenta. Entretanto ela já está no R e ele, no S, e os olhos dos dois brilham de emoção ao lerem que o rato roeu a roupa e a roda. Fico só imaginando como vão ficar felizes logo mais, ao conferirem que Ivo viu a uva! Às vezes as pessoas são bonitas. Não pela aparência física nem pelo que dizem. Só pelo que são. Pelo empenho de percorrerem o ilusório caminho marcado pelo arco-íris para atingirem seu pote de sonhos; para chegarem ao Z.
(foto: mhtml:mid://00000010/!http://www.brinqmania.com.br/ecommerce/produtos/g_painel_alfabetizacao.jpg)

4 comentários:

  1. Deve ser muito emocionante ver um adulto conseguir ler e escrever. A vontade de aprender, a conquista de cada traço, a busca da compreensão do que leu e escreveu. Diferente de crianças, elas aprendem porque os pais as matricularam na escola, faz parte de sua educação.

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  2. É verdade, Vera. Nunca tinha tido uma experiência dessas e agora me sinto gratificada com a emoção que a descoberta das palavras proporciona a quem já tinha perdido esperanças de com elas conviver. Beijo.

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  3. Oi, Teresa!

    Deixo meus botões, linhas e agulhas, para ouvir os o que seus botões estão dizendo!

    Parabéns professora, por sua dedicação e sensibilidade!

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  4. Oi, Limara: de botões a botões, quanta coisa há para ser dita, neste mundo em que nada parece ter acabamento perfeito, não é? Beijos.

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