domingo, 13 de setembro de 2009

Silêncio

Com que prazer sapatinávamos naquela conversinha que respirava lenta e suavemente, como se as palavras ouvissem o som do silêncio chorido de tanta inspiração. Numa espécie de vigília matutina, buscávamos os segredos cirandantes daquele momento de ausência de som com cheiro de café e gosto de manteiga gelada; para cada gole um sussurro de caminhência e o diálogo abria-se para assuntos disso e daquilo, coisas de todo dia, de toda hora, para o que se sente e não se sabe. Coexistem sempre horas de falta e horas de preenchimento, mas aqueles instantes eram apenas de bailarismo do que enriquecia com sabor de ternura e de saudade; o perfume do ar ainda de orvalho nos transportava para aquela floresta de sequóias vermelhas de quatro séculos em São Francisco e o colorido que teimava em desacolher a rotina com textura de sábado deslocava-nos para as estradas tortuosas da Costa Amalfitana; cada minuto tem uma voz secreta e o silêncio transformava-se num lago, num oceano onde poderíamos nos deixar ficar, cheios de encantamento.

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