segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Opções

Caminhada na segunda-feira é inevitável, mas quando cheguei ao parque, havia garoa fina e vontade de voltar. Tive que optar e fiquei. Foi quando associei-os, os personagens do filme e do livro, que comigo conviveram durante todo final de semana. A menininha de Uma prova de amor me surpreendeu; fora gerada para salvar a vida da irmã e se indignara com sua situação de transparência no mundo, só modificada quando dela foram necessários células e rins. Comoveram-me sua determinação e sua coragem de apenas 11 anos: como faria ela para jogar futebol, para tomar um drinque mais tarde? O que faria ela se o outro rim futuramente parasse de funcionar em seu organismo já tão escarafunchado? Optara por enfrentar os pais nos tribunais, mesmo que isso fugisse aos padrões normais de convivência. Mesmo que os fins justificassem os meios (aos olhos do mundo). O estudante americano de Indignação de Philip Roth me surpreendeu. Abandonou os aventais ensanguentados do açougue onde ajudava o pai - trabalhador infatigável que preferia ver o filho único dentro de uma redoma - e atirou-se à vida medíocre de uma universidade conservadora cheia de preconceitos. Aos 19 anos, também queria seu espaço no mundo e optara por não se deixar privar, mesmo que fosse taxado de indisciplinado e de antissocial. Mesmo que tivesse que morrer na guerra da Coreia. Novamente a ficção refletiu de maneira fidedigna a realidade (será?). A última frase do fantástico livro de Roth não me saía da cabeça, apesar de a chuva forte e ininterrupta daquele momento tentar desviar minha atenção: o jovem Marcus poderia ter postergado a “forma terrível e incompreensível pela qual nossas escolhas mais banais, fortuitas e até cômicas conduzem a resultados tão desproporcionais”.

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