quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pombos

Quando o lençol flutuou por uns instantes, perto do teto, senti uma harmonia boa de vida ordeira, calma, satisfeita. O aroma perfumado da roupa de cama recém saída da prateleira preencheu meus pensamentos e eu pude concentrar-me na textura daqueles milhares de fios e recordar-me da história das caixas de pombos do Cairo. Certa vez, na terra dos faraós, visitando um bairro de classe média, surpreendi-me com as casas completamente sem pintura exterior, no teto das quais havia colunas e as tais caixas de pombos. Lá as pessoas moram a vida inteira nos mesmos lugares, vão colecionando móveis e coisas importantes (com muito dourado) e imprescindíveis para sua felicidade; as paredes de fora não condizem com o exotismo que normalmente existe e é valorizado dentro dos lares. Como as famílias crescem, a estrutura dos prédios já aguarda por isso, para que os filhos morem perto dos pais, daí as colunas. No entanto e o mais sugestivo são os pombais: pombos são afrodisíacos e o dia de devorá-los é sempre 5ª feira, ou seja, também dia de dormir com a mulher. Curioso é que o homem pode ter 4 mulheres; 5 mulheres dá cadeia. Se quiser muito uma 5ª, pode pedir divórcio de uma das outras 4; entretanto, se houver “vaga”, aquela que foi embora pode voltar, a não ser que já tenha sido “devolvida” 3 vezes. Quanto à mulher, ela não pode se divorciar, mas pode pedir divórcio, se o homem não “comer pombo” com ela durante 6 meses. Costumes diferentes, hábitos inconcebíveis para nós, mas necessidade comum de sentir aquela harmonia boa de vida ordeira, calma, satisfeita.