sábado, 15 de agosto de 2009

Genocídio

Certa vez, em São José do Rio Pardo, a redoma de vidro que protege a cabana onde Euclides da Cunha escreveu Os Sertões causou-me comoção. Há pouco tempo, depois que expliquei o sentido da revolta de Canudos, comentei sobre a denúncia do crime e contei sobre a alegria de conhecer aquele espaço que mais parece um santuário, um aluno me disse que iria ler o livro. NOOOSSA! Segundo Walnice Nogueira Galvão, a professora da USP especialista na obra euclidiana, se isso fosse pedido na escola de hoje, seria considerado um genocídio! Fiquei emocionada com o interesse solitário e tive certeza de que se de fato esse genocídio acontecesse, o futuro agasalharia o Brasil cheio de frio, nu de valores e de tradições nada respeitadas. Pela internet, ouvi ontem, maravilhada, os debates organizados pelo Estadão sobre o legado do escritor e me emocionei de novo com o que Lilia Schwarcz disse sobre “O Homem”, a parte do meio da obra pilar de nossa nacionalidade: o conhecimento desse capítulo é “fundamental para que o Brasil comece a se apalpar”. De fato, aqui onde há mais editoras que livrarias, precisaríamos mesmo sentir a mesma vertigem que levou Euclides da Cunha a criar essa obra missionária e, tal como as plantas do sertão, precisaríamos reexistir, precisaríamos nos regenerar de dentro para fora de um jeito meio antropofágico e aí quem sabe reaprenderíamos a pulsar e a desejar, apalpando-nos criticamente. Hoje é um dia significativo: há cem anos morreu o homem comum que se tornou grandioso porque conseguiu ver e dizer o que pensava numa espécie de poema sem fim. Que o genocídio preconizado aconteça!

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