quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Epifania

Quando a mãe da garotinha de dois anos perguntou a ela na saída da escola se alguém tinha lhe batido, ela prontamente respondeu “eu só me defendi” com sua carinha marota e aquele risinho terno de quem curiosamente já aprendera a lidar com os desaforos da vida; nós que presenciamos o diálogo sentimos uma espécie de epifania que nos tirou instantaneamente do chão para tornar a nos colocar ali no minuto seguinte; já éramos naquele momento diferentes daquelas pessoas que fôramos alguns minutos atrás apesar de não termos saído do lugar. Pensei então que às vezes quando nos sentimos frágeis como cristais de gelo e nem ouvimos o perfume das azaléias brancas de beleza estonteante no jardim, de duas uma: deveríamos ficar parados na friagem de nossas angústias e saborear aquela espécie de solidão que sempre há por baixo de nossas superficialidades cuidadosamente polidas ou então deveríamos chutar as pedras pontudas de nossos caminhos sem medo de machucarmos o dedão do pé. E então se a vida espantar-se com nossa atitude e nos questionar sobre pedras e solidões, deveríamos dizer-lhe com cara marota e riso terno: “eu só me defendi”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário