Chuva garota. Caía timidamente e mal molhava as pedras endurecidas pela aridez do tempo e de todos aqueles nervos ressequidos. Era morna, inconsistente, ávida por tornar-se um temporal arrasador, memorável.
O solo seco rejubilava-se com aquele sopro úmido; o tédio enfurecido da rotina cinzenta tingia-se de um colorido suave e a chuva menina salpicava aqui e ali com graça e ternura, seguindo o curso do destino a ela confiado.
Era esperada há muito. Ele sabia necessitar daquele afago e saiu pelas ruas empoeiradas a seu encontro. Reconhecia-se incompleto, incompetente. Lágrimas redondas misturavam-se ao tênue sussurro dos sutis respingos de encantamento daquela chuva ainda virgem de maus presságios.
Foi quando tudo se transformou. Invadiu-o uma tempestade de partículas de pó ainda mais ressequidas, e seu ódio tomou gigantescas proporções. ZAP! Era só voltar a seu cotidiano regrado, esquecer a chuva agora já não tão plácida. Não havia necessidade de lavar o chão de sua alma, de limpar os vidros de sua imaginação embotada. As palavras continuariam ali, fechadas em seu comodismo peculiar, acostumadas que estavam à pequenez de seu empenho e de seu engajamento.
Doce martírio. Desencadearam-se e fluíram aquelas palavras febris, quebrando as vidraças, saltando para fora e apreciando com sofreguidão o cheiro de terra molhada. Nada mais as deteria. Nuvens e mais nuvens maciças contorciam-se no céu, flores brotavam no asfalto e a chuva, finalmente adquiria feições sensuais e irresistíveis.
É o cheiro da primavera no ar!! Fogosa ela se prepara toda e manda a chuva para regar bem suas sementes que loucamente logo explodir-se-ão! Beijo da Célia que ama a primavera!
ResponderExcluirEla é sempre bem-vinda! Sobretudo quando a secura da vida nos invade e caimos na depressão ou desalento. Ela vem, lava, fertiliza, prepara o solo e as mentes para o novo sol que, certamente brilhará! BJ RUTH
ResponderExcluirCélia:
ResponderExcluirMaravilha a Primavera! Também é minha estação preferida pelo colorido, pela harmonia que o de fora projeta no de dentro.
Beijos
Ru:
A natureza tem a dose certa mesmo, a não ser que alguém a torne destemperada... Sábia natureza, como se diz.
Beijos
Chuva abençoada...lavou o solo e lavou a alma.Mas logo o sol voltará,mais uma vez....
ResponderExcluirAmei seu texto, como sempre!
Beijos,beijos
Roseli
Roseli:
ResponderExcluirNada como uma chuvinha para lavar a alma...
Delícia de comentário, muito obrigada.
Beijos
As pessoas se transformam de uma hora para outra. Ao contrário do que se costuma acreditar, nada mais normal que essa reviravolta súbita. Alguma coisa eclode de repente, tudo muda, e se tratando de amor, então, pode virar pelo avesso. Belo texto, Maria Teresa.
ResponderExcluirBeijo beijo.
Dade:
ResponderExcluirA imprevisibilidade faz parte de nosso estigma, sem dúvida. Importante é que saibamos andar no fio delgadíssimo e, se nos desequilibrarmos, que procuremos cair do lado onde haja meios para retornarmos e prosseguirmos.
Beijos
Da inconstância do tempo... da inconstância da vida!
ResponderExcluirDa chuva que em vida se desdobra na terra... da vertigem que, de repente, pode lavar a alma!
E pareceu-me ler aqui a paisagem que está do lado de fora da minha janela... e senti bem fundo o grito que apela à renovação!
Beijinho
Quicas
Caro Quicas:
ResponderExcluirÀs vezes essa visão renovadora é uma bênção. Nada como a vida trocando de roupa e de perspectivas.
Grande abraço
Sim. Eis que vem uma nova fase. Que venha...
ResponderExcluirAuto retrato:
ResponderExcluirFase nova sempre tem cheiro bom. Que venha logo!
Abraços e obrigada pela visita