Viés político, Mia Couto defendeu esse caráter da Literatura, numa palestra proferida na abertura de um Curso de Pós-Graduação, aqui em São Paulo. Disse também, que quando leu “A terceira margem do rio” de Guimarães Rosa, ouviu vozes, identificando-se largamente com nosso escritor mineiro, já que sua narrativa muito se aproxima de tradições orais. Refletindo sobre isso, à medida que folheio o jornal diário, sinto que “tudo é e não é”, como já dizia Rosa em Grande Sertão – Veredas. As esquisitices e descalabros desta época pré-eleições causam mais desconforto que a secura do ar, obrigando-nos a uma condição de vida de deserto. Não se consegue respirar direito, dormir direito, pensar direito. Ocorre o mesmo quando se tenta raciocinar com lógica a respeito dos discursos políticos daqueles que comandarão os rumos do país e que nos representarão fora dele. Com palavreado tenso e argumentos chulos, põem-nos à frente uma enxurrada de promessas vãs e de sorrisos planejados, que de forma alguma convencem e/ou tranquilizam. Tudo é um mar de utopias e não é nada disso. A realidade clama por Justiça, por Educação, por Ética, vozes longínquas que sussurram acobertadas por santinhos de campanha e por entrevistas em que se veem muito mais disputas retóricas do que compromissos efetivos. Sempre tive para mim que a Literatura preenche lacunas, salva a alma ofegante e ávida de vida. Vida digna, plena de humanidade. Pois bem, estamos maltrapilhos na terceira margem do rio, entendido como metáfora deste viver que tanto buscamos e, assustados, aparecemos aqui e ali cheios de coragem. Não queremos holofotes nem abraços artificiais de quem sorri para nós para arrebanhar nosso voto; queremos respirar saudavelmente, queremos ouvir vozes que nos chamam com sinceridade para que possamos viver nossa vida de seres humanos comuns, satisfeitos com o que nos torna felizes de estar aqui, nesta nossa canoa que sobe e desce o rio. Talvez o escritor moçambicano tenha razão: a Literatura tem compromisso político, tem didática própria e pode começar a ensinar pelo beabá.
"Com palavreado tenso e argumentos chulos, põem-nos à frente uma enxurrada de promessas vãs e de sorrisos planejados, que de forma alguma convencem e/ou tranquilizam." Me parece lógico e cheio de senso crítico.
ResponderExcluirQuanto à literatura, uma vez li de um prof que a literatura já não podia fazer mais nada, dando a entender que agora era necessário agir. Além disso, a literatura tem que concorrer com a velocidade do cinema e da propaganda, armas bem conhecidas dos marketeiros políticos...
Beijo,
Amanda
Amanda:
ResponderExcluirVocê tem razão de que tudo parece estar de pés e mãos atados. No entanto, as palavras também são traiçoeiras e podem "dar uma rasteira", se bem arquitetadas; a imaginação ainda é livre e solta...
Beijos
Maria Teresa,
ResponderExcluirO discurso dos políticos há muito transformou-se em des-curso, pois não leva a lugar nenhum, a nenhuma fé, nenhuma confiança, como você diz de outro modo. E é desconcertante que, na 'intenção de trabalhar pelo país' (e é o que deveriam fazer todos), haja tanta 'santidade' em cada face candidata. Ora, se o compromisso fosse realmente com a nação, rostos e falas não teriam esse cinismo perverso e ordinário, essa 'bondade de última hora', pra depois..., bem, já sabemos o que o desejo pelo poder faz sempre. É amargo ver que a grande amioria não percebe a enganação. A enga-Nação.
Abraços e parabéns pelo texto.
Nivaldete:
ResponderExcluirSeu comentário em muito complementou a ideia do descaso político acobertado, nesta época de eleições, somado à desesperança de quem está do outro lado. Época de circo.
Muito obrigada.
Beijos
Olá Maria Teresa,
ResponderExcluirQue tão bem se aplicam as suas críticas políticas, sobre o que se passa de tão similar aqui em Portugal, no entanto isto aqui é um paizeco, que se armou a viver à rico, seguindo o exemplo de outros países da UE, só que a discrepância entre uns e outros é muita! O Brasil agora não é uma potência mundial? Eu sei que o pior é o desiquilibrio social. Eu já me cansei da política e muito mais dos políticos, de facto como diz, campanha é a época das mentiras, do circo, apetece ir para um deserto e levar uns bons livros, uns bons cds e uns bons filmes.
Beijinhos,
Manuela
Manuela:
ResponderExcluirMuita coisa no mundo é igual, só muda de endereço. Você tem razão. Nesta época de eleições, dá mesmo vontade de sumir...
Beijos
Maria Teresa.
ResponderExcluirMeu estômago embrulha, o cérebro se contorce, meus ouvidos gritam quando a candidata Dilmente abre a boca.
Será que o povo não enxerga?
A mulher é incapaz de articular uma frase conexa, meu deus do céu, em que mundo vivemos?
A futura presidente é a prova cabal de que a educação desse país vai de mal a pior!
Socorro Aurélio Buarque de Holanda!!!!
Vera:
ResponderExcluirA desesperança e o descrédito são generalizados. É pagar pra ver! Socorro!
Beijos
Não poderíamos, nós, brasileiros er chegado tão baixo em termos de eleição. O que se vê, realmen te é um disparate, um desrespeito à inteligência do povo, uma senvergonhice sem conta. Como esperar algo de bom ou proveitoso após uma campanha tão chula? O pior é que apesar de tudo, iremos votar... E dentre os piores, escolher o mlhor... RUTH
ResponderExcluirRu:
ResponderExcluirVamos cheios de coragem; impossível pensar diferente. Buscamos aquela esperança que existe e que brilha ao longe... Ainda bem...
Beijos