“Tempo de partido. Tempo de homens partidos”, nos dizeres de Drummond. Tempo em que a natureza revoltosa se agita e se remexe e se contorce. O avesso torna-se superfície de cicatrizes incuráveis e o homem sente-se inseguro na sua pequenez e na grandiosidade de sua soberba. Neste tempo de perdas, morre José Mindlin, que, com livros, construiu um império de pensamentos. Foi grande advogado e, posteriormente, notável empresário; foi brasileiro engajado na defesa da causa dos imigrantes após a Segunda Guerra, entre outros projetos que envolviam aspectos éticos. Mas acima de tudo foi um “guardião de livros”.
Tive a grata oportunidade de ter tido com ele dois contatos: enviei-lhe certa vez um livro de poesias, que acabara de ter sido publicado; estava envaidecida apenas por mandar-lhe, mas quando recebi um telegrama com os dizeres “é bom que na confusão em que vivemos haja quem pense em poesia”, senti-me exultante com a generosa delicadeza e com a sensibilidade da mensagem. Em outro momento, assisti a uma palestra em que Mindlin contava um pouco de sua trajetória e de seu amor pelos livros; perguntei-lhe, então, qual era a obra que todas as pessoas deveriam ler e ele respondeu-me: Guerra e Paz de Tostoi. Pregava a leitura cuidadosa dos clássicos e não apenas a adaptação dos mesmos para maior “simplificação”, como se cultua na modernidade. No entanto, para Mindlin, pais e professores deveriam estimular a leitura, entendendo que ninguém gosta de fazer coisas por obrigação; dessa forma, precisariam estar cientes de que o que a criança lê é mais ou menos irrelevante: segundo o já saudoso bibliófilo, adquirindo o hábito, quando esta criança crescesse, desenvolveria o discernimento relativo às suas opções de leitura.
Assim, neste tempo de homens partidos, José Mindlin, que nunca se considerou colecionador, mas grande leitor, foi esteio: doou seu acervo e deixou-nos como legado a Brasiliana, mas, sobretudo, ensinou-nos como manter os elos que sustentam a pátria e que promovem o desenvolvimento de um Estado coeso e forte.
(foto: http://www.abril.com.br/noticias/brasil/serra-decreta-luto-oficial-morte-jose-mindlin-536532.shtml)
Maravilhoso, Maria Teresa
ResponderExcluirUma homenagem linda para um homem muito especial que deixa um rastro de luz pelos caminhos que trilhou e que iluminará ainda muitos outros caminhos.
Beijos
É mesmo, Dulce; ele foi de fato um ícone de luz!
ResponderExcluirBeijo carinhoso
Que linda homenagem a um homem tão generoso, cheio de alma...
ResponderExcluirQuerida Maria Teresa, ando tão enjoada que não tenho ddedicado muito tempo aos meus amigos de blog... mas sempre que der eu passarei por aqui pra deixar-de um beijo e desejar-te um ótimo dia!
Abraço,
Cacau
Estimular o hábito da leitura nas crianças... Sábio ensinamento, vindo de um grande homem, que fez a diferença! Ótimo dia para você! Beijos.
ResponderExcluirCassia:
ResponderExcluirAcredito que esta seja a fórmula valiosa para tentarmos mudar o rumo desta nossa terra tão carente de cultura.
Beijo carinhoso a você.
Um grande homem só é grande se suas idéias foram grandes, se sua inteligência for grande ... E como ele tem razão! A leitura vem antes mesmo de se saber ler ...
ResponderExcluirLucca tem 3 anos e adora livros, sempre digo que para livros não tem data certa para ganhar ... E como ele gosta dos seus livros! Incentivamos sempre para que ele se torne um grande homem, com grandes idéias e com muita inteligência.
Beijo grande
Vanessa
Um homem admirável, o Mindlin. Todo mundo tem um potencial de grandeza na vida, mas nem todos realizam esse potencial. No caso dele, que foi fiel a si mesmo, o exemplo foi dos melhores. Pode não parecer muito, porque esse tipo de grandeza não chama a atenção do grande público. Nem por isso merece menos, ao contrário - é preciso coragem para levar uma vida íntegra e produtiva.
ResponderExcluirBeijo pra você.
Profa,
ResponderExcluirFiquei sabendo do falecimento do Mindlin pela minha mãe e tenho uma amiga que lia para ele. Estamos todos muito tristes. Mas tenho certeza que ele ainda vai viver por muito tempo em nossas memórias.
beijo
Daniel
Vanessa:
ResponderExcluirO Lucca é um menino de sorte, pois tem vocês que o incentivam e que o estimulam, mesmo que ele seja ainda pequenininho. Ele já é um pequeno grande homem!
Beijos
Dade:
De fato, ele foi destemido e esteve sempre alicerçado em suas convicções para defender os seus princípios. Grande exemplo!
Beijos
Daniel:
Pessoas assim, de alma iluminada, têm sempre um grande espaço nos corações de quem está cotidianamente em busca de caminhos mais retos e mais humanos.
Beijos
Amiga Teresa,
ResponderExcluirLamento admitir a minha enorme ignorância, mas não conhecia nem o nome. Lamento, como lamento o seu falecimento.
Quando alguém desta grandeza não só cultural como humana nos deixa, o Mundo fica sempre bem mais pobre.
Beijinhos
Ná
Cacau:
ResponderExcluirRespondi pra você, mas não sei o que houve que não apareceu aqui. Muito obrigada por sua visita; espero que você esteja melhor.
Beijo carinhoso
Maria Teresa:
ResponderExcluirLinda homenagem a esse homem tão inteiro que faz pensar essa legião de homens partidos de que é feito nosso mundo moderno.
Parabéns, querida!
bjos
Fernanda:
ResponderExcluirImagine que Mindlin doou parte de seu rico acervo para Universidade de São Paulo e agora está quase no final o projeto de construção da Biblioteca pública que recebeu o nome de "Brasiliana". Dessa forma, será imortalizado o seu desejo de democratização plena do livro como bem público e de direito de todo cidadão.
Com um beijo carinhoso.
Maria Alice:
É exatamente assim que guardei a imagem desse grande homem. Adorei sua mensagem!
Beijos.