domingo, 28 de março de 2010

Circo

No meio da manhã do domingo, nós duas estávamos ávidas por uma mexerica. É que havia tantas na fruteira e elas pareciam tão suculentas, que ficaram irresistíveis. Entre um gomo e outro, a leitura das tragédias que têm mania de se perpetuarem, de se entranharem nos pensamentos e que até nos domingos ficam pairando com aura densa e acinzentada. Impossível não nos comover com a precariedade humana. Mais uma vez o circo foi montado com toda pompa e rigor de detalhes. Mais uma vez a multidão saiu de casa para sentir o cheiro do sangue ressecado, afinal, nada como ter um bom motivo para estourar rojões, daqueles que deixam no céu partículas luminosas que encantam só de ver e re-ver. O motivo é de somenos. O que vale é o gosto da torcida que sempre vibrou com ardor e de forma semelhante. Nas arenas do Coliseu romano, nas praças ao tempo da Inquisição, nas touradas de Espanha, diante das portas do Fórum, à espera do casal condenado por atirar uma pequena menina pela janela. Depois da comemoração, cada um com seus problemas e com suas mexericas, todavia, no céu, perduram partículas multicoloridas acima da humanidade, que caminha em busca de outro mote. O motivo é de somenos; basta que haja rojões.

3 comentários:

  1. Bom dia, Maria Teresa

    E como os homens não mudam, as tragédias vão se repetindo ao longo dos séculos...

    Beijos

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  2. Bem pensado, bem dito. Às vezes a gente sente vergonha de se reconhecer nessa humanidade... Um abraço.

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  3. Dulce:
    Essa rotina é desesperançosa, não?
    Beijos


    Nivaldete:
    Sinto-me assim... É difícil vestir essa pecha de mediocridade.
    Beijos

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