sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Retrovisão

Como há muito não acontecia, dei-me de presente uma parada naquele shopping, já que passava pela porta dele. Claro que comprei algumas coisas, afinal, é impossível só ver e ficar lambendo os beiços... Enfim, com algumas sacolas saí dali de alma alegre por ter feito alguma concessão e pelo fato de eu mesma ter sido a beneficiada e nem me dei conta da chuva que devia ter desabado do céu enquanto eu me entretivera com as seduções em forma de vestidos, blusinhas, centros de mesa e artigos de papelaria; como eu gosto deles! Tentei achar um caminho mais direto e andei muito e fiquei chocada: eu não saía do lugar! Liguei então o rádio e ouvi por minutos a fio que a cidade tinha parado e que o número de quilômetros congestionados equivalia a todos os que a cidade tinha, somados e multiplicados. Concentrei-me então nos assuntos, distraindo-me com as entrevistas e com as crônicas. Alguns paradoxos pairaram no ar: Salomão Schwartzman falou de cabeças ocas e de vitrines fulgurantes, enquanto Cacá ponderou sobre técnica e talento. Tentei ligar tudo isso e tive bastante tempo para chegar à conclusão de que o tempo não para de correr, mas me faz parar no tempo, numa rua alagada e na mira de milhares de motoqueiros mirando meu espelho retrovisor, para entender que de nada serve o brilho e o requinte se há apenas o vazio, o nada, mesmo que seja construído com a perfeita sintonia de engenho e arte para aquele tempo.

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